Já diz o ditado 'Quem não tem cão, caça com gato'. Após subir de divisão, o Nacional perdeu seis dos habituais titulares do onze de Tiago Margarido e a solução encontrada pelo líder alvinegro para colmatar estas baixas foi uma clara adaptação para quem não vive a nadar em dinheiro. A visão foi explicada pelo próprio técnico, numa entrevista ao podcast brasileiro The Pitch Invaders, do canal do Youtube Footure.
"O Nacional subiu este ano à Liga. É um clube que perdeu seis titulares e não tem uma base financeira grande que permita contratar jogadores de renome. Tive de me adaptar. Tivemos de fazer uma base de prospeção diferente do normal. Tivemos de ir a divisões secundárias e fomos buscar vários jogadores ao Brasil oriundos de escalões secundários. Tivemos de pesquisar talento sem gastar muito dinheiro", revelou o técnico de 35 anos e que está na segunda temporada à frente dos madeirenses.
E prosseguiu: "Tivemos de contratar 19 jogadores e tudo isso fez com que eu tivesse de adaptar a minha capacidade enquanto treinador". Depois, não escondeu que houve uma perfeita sintonia entre todos os elementos da estrutura nacionalista para reconstruir o grupo de trabalho. "Tivemos de nos deixar de lamentar o passado e construir algo a partir do zero. Em conjunto com a direção, definimos o perfil dos jogadores que pretendíamos, para além da fórmula de scouting a utilizar. Felizmente conseguimos uma boa base de recrutamento, pois conseguimos captar muito talento, ainda em bruto, mas muito talento que tem de ser desenvolvido". Margarido, não tem dúvidas: "Felizmente estou num clube que me permite, ou tem a felicidade de ter um presidente (Rui Alves) que olha para os assuntos com os mesmos olhos que eu. Temos a mesma visão, ou quase sempre a mesma dos mesmos assuntos, o que facilita bastante o trabalho".
Estilo de jogo adaptado aos jogadores
Tiago Margarido conquistou os adeptos nacionalistas com o seu futebol ofensivo, numa equipa que foi a mais produtiva no seu escalão em termos de golos marcados (66). O responsável do onze alvinegro explicou na mesma entrevista como procura tirar rendimento do seu plantel, reconhecendo ainda a importância de conhecer bem a realidade do clube e dos seus adeptos, de forma a ter sucesso.
"O meu estilo de jogo é sempre adaptado aos jogadores que tenho pela frente. Tenho de ver as suas características e ver a adaptação à forma de jogar. Ou então, enquanto treinador, adapto a minha forma de jogo às caraterísticas dos jogadores que tenho pela frente. Depois, também é importante perceber o contexto do clube. É preciso saber se é um clube que pretende apenas resultados desportivos, ou se também quer a valorização de ativos", revelou o técnico. Importante ainda nesta sua análise, são os adeptos: "É importante conhecer os adeptos. Temos de entender se a massa adepta coloca pressão na equipa, se é mais calma. Perceber se é uma massa adepta que nos jogos em casa se empolga com um futebol mais vertical, se é uma massa adepta que prefere um futebol mais forte. Portanto, tudo tem a ver com o contexto de clube, adeptos, estrutura e os jogadores que temos pela frente", afirmou.
Jovens treinadores fazem mudar o paradigma
Com 35 anos, Tiago Margarido, junta-se ao lote de jovens treinadores que, nas últimas épocas, têm conquistado o seu próprio espaço nas principais divisões portuguesas. O líder dos nacionalistas destacou a qualidade formativa das universidades que permite a jovens treinadores obterem um sucesso precoce, relembrando técnicos como André Villas-Boas e Rúben Amorim.
"O mercado em Portugal está a apostar cada vez mais nos jovens técnicos. Há cerca de uma década, havia muito a cultura do treinador ter sido o ex-jogador de futebol. As faculdades em Portugal começaram a criar cursos específicos para a formação de treinadores e muitos jovens sentiram-se atraídos pela profissão. Eu fui um caso desses, porque cheguei aos 25 anos e já tinha a formação feita ao nível académico. Os jovens saem muito bem preparados das universidades ao nível técnico e foi uma questão de tempo para os clubes começarem a dar-lhes oportunidades. Há vários exemplos. Temos o atual presidente do FC Porto, o André Villas-Boas, que começou muito cedo a carreira como treinador. O próprio Rúben Amorim também é exemplo disso. O meu caso também, para a primeira liga que conta com muitos treinadores jovens. Portanto, aqui há alguns casos que têm sido de sucesso e que fazem com que os dirigentes mudem o paradigma", finalizou Margarido.
O plantel nacionalista goza este fim-de-semana uma dupla folga, voltando ao trabalho na segunda-feira, às 10h30, no Campo Centenário, na Choupana, dando continuidade à preparação para a visita ao Estoril, um embate a contar para 5ª jornada da Liga Portugal Betclic.
Por João Manuel Fernandes