RECORD – Porquê esta candidatura à presidência da FIFA num jogo que, à partida, parece viciado, como toda a gente diz?
LUÍS FIGO – Por isso mesmo, tem de se dar o passo para tentar mudar alguma coisa em termos de imagem da organização. Tentar mudar a estrutura, a distribuição financeira pelas federações, para desenvolver os projetos de futebol de base. Mas principalmente por isso, pela imagem que a FIFA tem dado ultimamente. Se toda a gente fala que está tudo viciado, é sempre positivo tentar mudar, e para isso tem de haver uma mudança da liderança.
R – Admite que partirá em desvantagem por não ter um passado ligado ao dirigismo, como os restantes candidatos?
LF – Pelo contrário. Acho que, sendo uma pessoa independente, posso decidir a forma que acho ser melhor para a melhoria do futebol, isso não me faz pensar que esteja em desvantagem, pelo contrário. Estou bastante otimista e tenho esperança de poder atrair as pessoas para o meu projeto. É com essa convicção que dia após dia me sinto mais forte na defesa dessas ideias.
R – O antigo jogador não gostava de perder nem a feijões, como se diz. E neste projeto, está preparado para não ganhar?
LF – Acho que é bom para o futebol ter um debate aberto sobre a sua estrutura, a organização, a liderança existentes. Será sempre bom para o futebol, independentemente do resultado final. Porque no desporto é assim e isto é mais um processo em que a minha paixão pelo futebol me leva a dizer que não tenho receio em ter um resultado negativo.
R – Como vai tentar chegar às federações, alegadamente já comprometidas com Blatter?
LF – Reunir-me com o maior número de pessoas possíveis e mostrar-lhes as ideias do meu programa. Acho que são ideias importantes, propostas que visam uma melhoria da estrutura da FIFA, com definição exata das competências dos diferentes corpos, uma maior transparência. Logicamente que terei de os convencer que, se têm o mesmo projeto que eu tenho para o futuro do futebol mundial, então devem apoiar-me.
R – Entre as propostas, a ideia do alargamento do Mundial para 40 ou 48 países não está a reduzir ainda mais o leque de potenciais organizadores da prova?
LF – Não tenho essa ideia. É uma proposta que quero ver debatida no congresso da FIFA, dar mais poder de consulta às federações é sempre um ponto quente. Aumentar o número de seleções no Mundial não será com vantagem para a Europa, mas de outras confederações. Por outro lado, vai aumentar as fontes de rendimento e isso será reinvestido no futebol. O que se alarga é a competição em três ou quatro dias.
R – Entre outras das suas propostas está a tecnologia de linha de baliza, mas também o que parece ser um retrocesso, com a recuperação do antigo modelo da lei do fora-de-jogo. Não há aqui uma contradição?
LF – Acho que em termos de tecnologia, nos dias de hoje é lógico que devemos usufruir dela no desporto. Em relação ao fora-de-jogo, acho que se, em termos tecnológicos, me apresentarem alguma proposta que melhore o que existe, tudo bem. Mas penso que é uma opção para ajudar os árbitros, porque seria mais fácil o seu trabalho com a antiga definição do fora-de-jogo.
R – Sabe que Portugal está representado em 16 comités da UEFA mas em nenhum da FIFA. Acha que é outro contratempo para si?
LF – Acho que não. A FIFA deve ter comités com representatividade de todo o Mundo e é uma das propostas que faço, que pelo 50% das pessoas que trabalham na FIFA sejam de fora da Europa. Vejo isso como uma coincidência, já que Portugal tem muita gente de qualidade no futebol.