Após "uma vida" como selecionador nacional de ciclismo de estrada, José Poeira decidiu reformar-se por sentir que este era "o momento certo para sair", reconhecendo contudo ter "mágoa" por deixar o cargo que ocupou durante quase 25 anos.
"Acho que era o momento ideal, porque posso reformar-me. Portanto, isso será bom para mim, porque também tenho tido uma vida de muito desgaste, de andar com quase todas as seleções. Isso ocupa muito tempo, implica uma grande responsabilidade e desgaste também. Tenho alguma idade e também quero viver um bocado com a família", resume à agência Lusa.
Aos 66 anos, e após três décadas a trabalhar para a Federação Portuguesa de Ciclismo (FPC), Poeira sentiu que era altura de parar. "Nós temos de pensar que nada é eterno e há um momento para sair. E decisões destas nunca são fáceis", admite.
Deixar o cargo que assumiu em 2001, confessa, "deixa alguma mágoa", porque mais do que um "trabalho aliciante", ser selecionador foi uma paixão.
"É um momento que não é fácil para ninguém. Isto não foi uma passagem de um ano ou dois por um cargo destes, foi uma vida, foram muitos anos. E em tantos anos, muita coisa boa aconteceu", destacou, quase repetindo o mantra que acabou por batizar a sua biografia ["Alguma Coisa Boa Há-de Acontecer-me"].
Para trás, o odemirense deixa os maiores feitos alcançados por seleções nacionais em Mundiais, Jogos Olímpicos e Europeus, num palmarés que ocupa sete páginas no 'Word' - que só compilam lugares de portugueses entre os 10 primeiros.
Talvez por isso, não consiga responder à pergunta sobre qual foi o melhor momento que viveu como selecionador.
"Os momentos foram muitos, porque nem só quando se faz um primeiro lugar é um grande momento. Há outros momentos que foram marcantes, em muitas situações, em Jogos Olímpicos, campeonatos do mundo, campeonatos de Europa, descendo um bocado na categoria, a Taça das Nações", enumerou.
A conquista inédita da Taça das Nações sub-23 em 2008 parece merecer um carinho especial por parte de Poeira, que enaltece o facto de um país pequeno como Portugal, com menos corredores do que as potências, ter conseguido fazer uma boa gestão durante o ano inteiro para garantir o triunfo na geral.
Inesquecível é também o título mundial de fundo conquistado por Rui Costa em 2013, "um grande momento" para o ciclista que anunciou há menos de um mês a sua retirada, mas também para o país.
"O lugar do Rui Costa marcou realmente a história do ciclismo português e é uma viragem grande na história", considera.
Otimista por natureza, Poeira garante não ter vivido maus momentos na seleção.
"Há momentos em que a gente não consegue o objetivo que gostava, também há algum azar, mas também, dentro da corrida, não houve assim uma coisa catastrófica que se dissesse que foi um momento mau", completa.
Agora, "a vida continua" e o longevo selecionador quer apenas desejar "boa sorte ao país e à instituição" (Federação Portuguesa de Ciclismo), sem esconder a nostalgia por se despedir de um ambiente "quase familiar" e de corredores que acompanhou do início ao fim das suas carreiras.
Por Lusa