Londres – Pete Sampras liderava por 6-5 o terceiro ”set” da final de Wimbledon e preparava-se para servir. Tinha ganho as duas primeiras partidas e, se fosse capaz de manter o seu saque inviolável, tornar-se-ia no maior especialista de ténis sobre relva de todos os tempos.
”É difícil explicar o que se sente quando se serve para a vitória. De repente, o título está na minha raquete. Começo a ter uma respiração mais pesada e começo a pensar que ou ganho o torneio ou sou obrigado a disputar um ’tie-break’. Decidi arriscar”, relembrou o norte-americano.
Arriscou e arriscou bem. Em duas ocasiões, o primeiro serviço traiu-o, mas ele nem pestanejou. Pediu outra bola e arrancou um ás de segundo serviço. No primeiro ”ace”, ergueu os punhos e gritou ”vamos lá”. No segundo, elevou os braços. Tinha acabado de conquistar o mais importante torneio do Mundo.
Que diferença entre este Pete Sampras que não tem problemas em partilhar com o público as alegrias do sucesso, com aquele que, há sete anos, também num dia 4 de Julho (o dia nacional dos EUA), foi alcunhado de ”fastidioso”, pela forma robótica como ganhou o primeiro dos seus seis troféus de Wimbledon.
Seis, um número mágico para ele. Neste século, ninguém conseguiu arrebatar tantas vezes o mais cobiçado título da modalidade. Bjorn Borg tinha conseguido cinco (de 1976 a 1980) e Sampras fizera-o outras tantas vezes (1993/94/95/97/98). O sueco levava-lhe a vantagem de tê-lo feito consecutivamente. Em 1999, ”Pistol Pete” apagou qualquer dúvida: é o melhor tenista de todos os tempos sobre relva.
Para ele, tal distinção é mais importante do que o comum dos mortais pode pensar. O homem que, em Novembro do ano passado, se tornou no único jogador a encerrar seis épocas consecutivas no posto de nº1 mundial, só joga com uma única motivação: ser considerado o melhor jogador de sempre. O seu sentido da História da modalidade é impressionante e, de certa forma, inesperado, numa época de profissionais egocêntricos em que é o único a admirar os campeões do passado.
Toda a sua concentração é focada num único objectivo: bater recordes. O de anos seguidos à frente do ”ranking” já está. O de semanas no comando da classificação do ATP Tour ainda não foi quebrado, mas igualado. Na semana passada, somou a 270ª semana como líder do ”ranking” mundial, equiparando a marca fixada, pela primeira vez, por Ivan Lendl.
Sampras espera um dia ficar também só neste aspecto e juntar-lhe uma 271ª semana, mas isso terá de aguardar uns tempos, pois foi ultrapassado por Andre Agassi e Patrick Rafter, respectivamente primeiro e segundo no ”ranking”.
Há, contudo, algo que lhe diz mais ao coração: o recorde de títulos de singulares do Grand Slam. Em Wimbledon, equivaleu-se a Roy Emerson, com 12 troféus, mas sonha já com o 13º.
”No ano passado – explicou –, o recorde pelo nº1 esmagava-me mas, agora, cheguei ao ponto em que só quero sair-me bem nos torneios do Grand Slam. Sinto que os Grand Slams são muito mais importantes do que ser nº1 mundial”.
COM OS OLHOS NO US OPEN
Se Wimbledon foi o palco ideal para angariar o seu 12º título do Grand Slam, Pete Sampras não esconde que o Open dos Estados Unidos seria o melhor cenário possível para um 13º e aponta já as baterias para Nova Iorque.
Prestes a sair de Londres, o norte-americano confiou à Imprensa que é com o pensamento em Flushing Meadows que irá jogar nos próximos meses.
– Acabou de fazer História em Wimbledon. É capaz de contar-nos o que lhe vai na alma?
– Para ser honesto, ainda tenho a cabeça a andar à roda. Estou esmagado por ter conseguido ganhar isto de novo. Nem sei como fui capaz de coleccionar este palmarés. Vou precisar de algum tempo para reflectir sobre tudo isto e para apreciar devidamente o que acabei de fazer.
– Foi, de alguma forma, especial tê-lo feito aqui, em Wimbledon?
– Era o local ideal para fazê-lo. Wimbledon é o mais importante evento desta modalidade. Ainda por cima, frente ao Andre Agassi, no dia 4 de Julho. Com ele é diferente do que com qualquer outro adversário. Não é só o nosso jogo que é diferente. São também as nossas personalidades que se chocam. É uma combinação fantástica e é óptimo para o ténis norte-americano. Andre consegue extrair de mim o meu melhor ténis. Com ele, o meu nível eleva-se a um patamar fenomenal. Tenho tanto respeito pelas suas habilidades, sobretudo pela sua resposta ao serviço, que sei que se não estou ao meu melhor nível vou ter um dia difícil no trabalho.
– Lamenta a inexistência de uma rivalidade como aquela que teve com ele em 1995?
– Já não o defrontava há algum tempo. Há três ou quatro anos que não medíamos forças na final de um torneio do Grand Slam. Mas, hoje em dia, julgo ser difícil que isto suceda mais frequentemente. O jogo de ténis está mais consistente e as rivalidades são mais complicadas. No Open dos Estados Unidos poderão ser outros os finalistas. Há outros jogadores que se podem apresentar como candidatos. Já não estamos no mesmo cenário de há 15 anos, em que os mesmos jogadores discutiam sempre entre si os títulos.
– Por falar no Open dos Estados Unidos, já está a pensar em quebrar o recorde de Emerson e conseguir um 13º título do Grand Slam no próximo mês de Setembro?
– Neste momento ainda não penso no recorde, mas tenho a certeza que quando começar a aproximar-se o Open dos Estados Unidos toda a gente irá falar disso. Adoraria quebrar o recorde e adoraria que isso fosse alcançado em Flushing Meadows, afinal, onde tudo começou para mim, em 1990 (Ndr. foi nesse ano, em Nova Iorque, que Sampras ganhou o seu primeiro torneio do Grand Slam). Sei, porém, que não será fácil.
– Este ano, a sua atitude em Wimbledon foi diferente. Não vimos aquele autómato perfeito do costume. Não teve medo de mostrar as suas emoções e pareceu também mais nervoso...
– ... Nervoso não, ansioso! Tem sido um ano duro para mim, porque não estava a jogar bem. No ano passado também foi em Londres que comecei a jogar melhor. De todas as formas, não sabia como iria exibir-me em Wimbledon. Mas, desta vez, tinha prometido que iria divertir-me a apreciar emocionalmente as vitórias. No final, acabei por jogar o meu melhor ténis.
QUEM É QUEM
Nome: Pete Sampras
Idade: 27 anos
Nacionalidade: norte-americana
Altura: 1,88 metros
Peso: 77 quilos
Estado civil: solteiro
Ranking actual: 3º
Melhor ranking: 1º
Total de títulos: 58
Títulos do Grand Slam: 12
Open da Austrália: 1994/97
Wimbledon: 1993/94/95/97/98/99
Open dos EUA: 1990/93/95/96
Roland Garros: 0
Prémios: 9 milhões de contos
HUGO RIBEIRO, com VITOR VAGO, correspondente em Londres