Maratona de Atenas: uma incrível viagem ao berço da mítica distância

Estivemos no palco da primeira maratona olímpica e ficamos encantados com a experiência

2024 está a ser um ano especial no nosso calendário de maratonas. Depois de em abril termos corrido a Maratona de Boston, a mais antiga do mundo, agora foi a vez de irmos até à Grécia para percorrer os caminhos feitos pelos primeiros atletas olímpicos na mítica distância. Há 128 anos, nos Jogos Olímpicos de 1896, nos primeiros Jogos da era moderna. O percurso, garantem os organizadores, é o autêntico. De Maratona até Atenas, como reza a lenda de Fidípides, o soldado ateniense que terá corrido os 42 (ou 40...) quilómetros para anunciar a vitória sobre os persas antes de colapsar de cansaço. Não sabemos se foi realmente assim. Ninguém sabe. Mas foi essa lenda que fez nascer este fenómeno que agora se alastrou por todo o mundo. E tudo começou ali. De Maratona até Atenas.

Apesar dessa história com 128 anos, esta Maratona de Atenas, que tem a 'alcunha' de "A Autêntica", apenas se realizou este ano pela 41.ª vez. Mas, mesmo não sendo das mais antigas, é um daqueles palcos que praticamente todos os maratonistas desejam pisar. Pela história associada essencialmente. Da nossa parte, confessamos, só queríamos fazer Atenas precisamente por ter a chance de fazer parte dessa história, porque pouco mais do que isso nos entusiasmava. Sabem quando vamos com expectativas baixas e somos largamente surpreendidos? Foi mais ou menos isso que nos aconteceu no último domingo.

Porque a Maratona de Atenas consegue ser algo verdadeiramente impactante. Por nos transportar ao berço de tudo. Pelo brutal percurso (já lá vamos). Mas também pelo carinho com que somos brindados praticamente durante os 42 quilómetros e 195 metros que ligam o ponto de partida, em Maratona, à linha de meta, situada no estádio Panathenaic, o estádio olímpico dos Jogos de 1896 e um palco mítico do desporto mundial. Tudo aqui consegue ter um peso histórico. E isso torna logo toda esta viagem em algo diferente.

Mas quanto ao apoio, esse foi talvez a nossa maior surpresa. Apesar de fazermos grande parte do percurso fora de grandes zonas urbanas, as gentes das terras por onde passamos saem às ruas para saudar os heróis da maratona, dando-lhes um bem necessário empurrão para superar as grandes dificuldades do percurso ateniense. Graúdos, mas também muitos miúdos, que desde bem cedo são educados a apreciar o desporto e aqueles que se desafiam numa distância que impõe sempre muito respeito. Ali, de Maratona a Atenas, esse respeito tem de ser ainda maior.

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Porque o percurso é provavelmente o mais duro que já fizemos numa maratona de estrada. A prova arranca ao nível do mar e por aí anda, com ligeiríssimo sobe e desce, até aos 14. Quando aí chegamos, não há que enganar. "Isto já começou a subir", disse-nos o nosso colega de aventura, um corredor do grupo adidas Runners de Lisboa. Não era nada de pronunciado, mas seria assim, sempre a subir, até ao 31. Dos 14 aos 31, sempre de forma constante, algumas vezes com inclinações bem assustadoras, vamos dos 20 aos 230 metros de altitude. Pensávamos que a Heartbreak Hill de Boston era dura, mas ao pé disto... é um passeio no parque. Quando chegámos ao topo, respirámos de alívio por sabermos que superámos o ponto mais alto da prova, mas o que se segue é tudo menos fácil. Vem uma descida até Atenas, até aos 80 metros. Mas desengane-se quem pensa que é algo fácil. A descer todos os santos ajudam, já diz o ditado, mas depois de 17 quilómetros a subir... naquele momento tudo fica a doer. E descer quase custa tanto quanto subir.

Mas, tal como em qualquer outra maratona, é aí que entra aquele habitual jogo mental, de percebermos que somos capazes de muito mais. Pode custar, porque a maratona vai sempre custar, mas no final os obstáculos acabarão por ser superados. No nosso caso, no caso de quem escreve este artigo, foi também a oportunidade de apadrinhar e ajudar diretamente na estreia de alguém na mítica distância. Mais do que o desafio pessoal, da satisfação pessoal de ter feito mais uma maratona, o mais especial do dia foi mesmo ver na primeira pessoa mais uma pessoa a juntar-se ao grupo de poucas pessoas que à escala mundial já correu a maratona.

Fazê-lo em Atenas, numa prova que consegue juntar tudo o que uma maratona deve ser, que é a verdadeira 'ilustração' do que deve ser uma maratona, tem ainda maior peso simbólico.

Atenas obriga a escolha certa de sapatilhas

Em Budapeste dissemos que nos tínhamos arrependido das sapatilhas que tínhamos escolhido. Em Atenas não podíamos ter sido mais certeiros na escolha. Nos pés levámos as adidas Adizero Boston 12, no caso na versão especial Boston Marathon. Até este dia, tínhamos feito provavelmente um máximo de 17/18 com elas como distância máxima num só treino. Mas ao longo dos mais de 42 quilómetros da prova percebemos que a escolha foi mesmo bem feita. Confortáveis, responsivas e muito estáveis para suportar essencialmente os impactos da descida, numa altura na qual as nossas pernas estavam claramente bastante massacradas.

Além das Adizero Boston 12, levámos igualmente connosco alguns dos mais recentes produtos da marca alemã, nomeadamente aqueles que foram lançados em homenagem a Nova Iorque, a New York Collection. Calções e singlet, com uma qualidade que não desilude. Os calções, especialmente, foram o produto que mais gostamos, por terem vários bolsos para conseguirmos levar os geis da prova.

Agora é hora de recuperar bem as pernas, que no domingo há mais uma para correr!

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Percurso: 7/10

É duro, muito duro. As subidas dos 14k aos 31k são diabólicas. Não são muito inclinadas no global, mas é uma subida constante, desde os 20 metros aos 250. Quase sempre a subir. Dos 25 quilómetros em diante é muito comum vermos gente a caminhar. Porque é duro! Depois, a descida que se segue é capaz de rebentar o que ficou ainda (mais ou menos) intacto. Mas, ainda assim, o percurso é mágico. Não pela beleza, mas pela história, por sabermos que foi ali que tudo começou (foi este o percurso dos primeiros Jogos Olímpicos da era moderna). E aquele final... arrepiante! Fechar uma maratona num estádio é sempre uma experiência interessante, mas fazê-lo no mítico Panathenaic...

Logística: 8/10

Impressionante o trabalho da organização para levar os mais de 20 mil até Maratona. Este transporte é feito de autocarro, em seis pontos de recolha que trabalham 'non stop' das 5 até perto das 7 da manhã. A viagem demora uns 45 minutos, um pouco à imagem de Boston. Lá chegados a Maratona, é tudo bem organizado e fácil de decifrar, desde o bengaleiro até aos blocos de partida (mais de 10!). No percurso, o único ponto negativo são os abastecimentos iniciais, que nos pareceram mal colocados e muito curtos. Na meta, o único reparo é a falta de espaço do estádio, que provoca um normal engarrafamento do pelotão, mas acaba por ser algo natural perante a dimensão reduzida do mesmo.

Ambiente: 8/10

A maior surpresa. Por passarmos em zonas rurais, fora dos grandes centros urbanos e mais habitados, pensávamos que o apoio seria reduzido, mas foi o oposto. Havia muita presença popular, em especial de crianças, e até trouxemos para casa um ramo de oliveira, gentilmente dado por uma delas na fase inicial. Quando entramos em Atenas passamos por um enorme corredor humano, que termina na mítica chegada ao estádio. No momento em que cruzámos a meta as bancadas estavam a meio gás, mas o ambiente era ensurdecedor mesmo assim.

Medalha: 9/10

Primeiro estranha-se. Depois entranha-se. A medalha desta maratona parece ser demasiado simples, mas quando a recebemos é como se se transformasse em algo mágico. E depois também há a história associada ao seu design, que desde 2019é entregue a um designer grego diferente. A isto junta-se o facto de, desde então, as medalhas terem sido idealizadas para, ao final de 8 edições, as fitas produzirem a palavra MARATHON. Este ano a letra era o T, com um desenho principal idealizado por Kostas Tsoklis, no qual surgia o trabalho ramo de oliveira. Na parte traseira, um pormenor ainda mais bonito: o perfil do estádio Panathenaic em prateado.

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Preços
A definir

Como chegar

De Lisboa há voos diretos 3.ª, 5.ª e domingo. Nos outros dias as ligações são com escala. Essa é, de resto, a única opção de voo a partir do Porto. Do aeroporto ao centro a melhor solução é o metro. Já o Uber custa 40€, mas com o trânsito caótico da cidade pode demorar bem mais.

Onde ficar

O ideal é escolher um hotel/airbnb perto da zona da meta, de preferência com um metro próximo para chegar a um dos 6 pontos de embarque do autocarro rumo a Maratona.

Onde e o que comer

A Grécia é um paraíso para comer bem. Seja mais saudável ou um pouco de comida mais calórica. Por ali o queijo é rei, tal como o azeite. No nosso caso, conhecemos alguns restaurantes típicos e aproveitamos para recomendar aquele que serviu de pós-prova. Chama-se MIRONI e está localizado junto da rotunda de Omonoia. É um bairro muito feio, a evitar, mas que merece a visita apenas e só para visitarem o restaurante que recomendámos. Bom e relativamente barato. Provem o queijo feta com mel e sementes de sésamo. É viciante! Mas também as carnes, nomeadamente a de borrego, que estava muito boa, ou ainda as espetadas. Se tiverem espaço reduzido para a sobremesa, não peçam nada. Pois é sempre oferecida uma fatia de Panna Cotta. Bem boa, por sinal!

Site oficial

Por Fábio Lima
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