Hilário: «Vivi aqui momentos que nunca esquecerei»

Hilário: «Vivi aqui momentos que nunca esquecerei»

RECORD – O que sentiu quando chegou aqui?

HILÁRIO DA CONCEIÇÃO – Senti uma nostalgia muito grande. Há um velho ditado que diz que "recordar é viver". Quando soube que vinha, fui ao meu arquivo fotográfico e relembrei o que se tinha passado em 1966. Digo sinceramente: estou bastante comovido. Estar neste hotel e visitar o estádio onde conquistámos as melhores glórias do futebol português é emocionante. Neste país, em Manchester e também em Liverpool, vivi momentos que nunca esquecerei até ao dia da minha morte. Quando entrámos agora em Goodison Park fiquei todo arrepiado.

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Que coisas importantes viveram no Stanneylands antes e depois dos jogos…

HC – Coisas muito bonitas, principalmente porque chegámos aqui ignorados – não havia um jornalista no aeroporto de Manchester à nossa espera, por exemplo. Só quando começámos a disputar cada jogo, a imprensa começou a acompanhar-nos. E tivemos várias alegrias ao longo do Mundial.

Qual foi a primeira coisa de que se lembrou quando aqui chegou?

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HC – A primeira coisa de que me lembrei foi das dificuldades que nos esperavam, do grupo complicadíssimo em que estávamos inseridos. Estávamos sujeitos a ser eliminados logo na primeira fase. Mas tínhamos uma equipa muito boa, apesar de ninguém nos dar valor, em termos internacionais e nacionais também. A verdade é que eliminámos equipas que eram candidatas ao título, como era o caso da Hungria e do Brasil, que era bicampeão do Mundo.

Foi fácil adquirir a motivação para atingir os objetivos?

HC – Tínhamos uma equipa técnica composta por dois grandes amigos, mas mesmo grandes amigos. O Otto Glória e o Manuel da Luz Afonso souberam gerir a Seleção Nacional e alimentar essa motivação. Depois tivemos um jogo que nos colocou na boca de todo o Mundo, que foi frente à Coreia do Norte, a equipa mais fraca do grupo – esquecemo-nos de que o futebol só se ganha no fim dos 90 minutos e apanhámos um grande susto. Entrámos em campo descontraídos, convencidos de que era canja. E o que aconteceu? Estávamos a perder 3-0 à passagem dos 20 minutos.

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Houve então a célebre palestra do Otto Glória…

HC – O Otto Glória, que era nosso amigo e um grande psicólogo, deu essa palestra fabulosa no balneário para a segunda parte, e que recordámos agora no balneário onde foi efetuada. O Otto humilhou jogador por jogador, puxou pelo seu brio e lembrou que estávamos a respeitar em excesso o adversário. Não nos deu tática nenhuma. Insultou-nos um por um e no final exigiu-nos que déssemos a volta ao jogo.

 Foi esse o jogo mais marcante da campanha?

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HC – Sem dúvida. Esse jogo fez-nos acreditar que podíamos chegar mais longe do que o terceiro lugar.

Pessoalmente, qual lhe correu melhor?

HC – Para mim foram todas. Felizmente consegui fazer grandes exibições em todos os jogos.

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Muitos consideraram-no mesmo o melhor defesa-esquerdo do Mundial…

HC – Fui o mais regular e considerado o melhor defesa-esquerdo porque estive na melhor Seleção da competição.

Como foi o ambiente entre a comitiva?

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HC – Foi ótimo, porque passávamos o tempo a brincar, como consequência do êxito que fomos tendo. Houve uma coisa que até acho que tem piada. Eu estava no quarto com o Eusébio e ele estava a dormir. E deu-me um ataque de fígado. Não quis acordar o Eusébio para não estragar o descanso dele. Tive de ligar para o Nuno Ferrari para me socorrer porque eu não tinha o número do quarto do dr. Silva Rocha ou do Manuel Marques. O Nuno foi o primeiro a aparecer no quarto e só surgiu o Manuel Marques. Nunca mais me vou esquecer, até à minha morte, desse tempo. *

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