Eusébio reencontra Amália no Altar dos Deuses

Eusébio reencontra Amália no Altar dos Deuses
• Foto: GUILHERME VENÂNCIO/LUSA

O corpo de Eusébio ficará a partir desta sexta-feira no “altar dos deuses” de Portugal. No Panteão (que significa precisamente altar dos deuses) Nacional, na Igreja de Santa Engrácia, o maior futebolista português de sempre repousará ao lado de alguns nomes incontornáveis da história de Portugal, mesmo que alguns estejam ali como manifestação do poder do Estado Novo, de Salazar.

A ideia de um Panteão Nacional nasceu em setembro de 1836 por Passos Manuel, mas teve de esperar pelo fim das “intermináveis” obras de Santa Engrácia (decorreram ao longo de 284 anos) para ter um local onde pudessem repousar os escolhidos com direito a entrar naquele Olimpo.

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Em pleno Estado Novo, foi sem surpresas que na inauguração formal do Panteão Nacional, a 1 de dezembro de 1966, para ali fossem transladados os restos mortais dos primeiros seis homens escolhidos para merecer tal honra: três escritores e três antigos presidentes da República.

Entre estes, dois nomes de duvidosos créditos para serem considerados como quem tenha “distinguido por serviços prestados ao país”: Sidónio Pais e Óscar Carmona. Sidónio Pais foi o quarto Presidente da República mas ficou na História por ter sido, na verdade, um ditador que lançou as bases do que viria a ser, mais tarde, o Estado Novo. E Óscar Carmona, por seu lado, foi o Presidente do primeiro terço do Estado Novo, com Salazar à frente do governo, tendo exercido o cargo por 25 anos, até à sua morte.

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Com eles, Almeida Garrett, Guerra Junqueiro, João de Deus e Teófilo Braga também foram transladados para o Panteão Nacional nos primeiros dias de dezembro de 1966. Os três primeiros, considerados das maiores figuras da literatura portuguesa dos finais do século XIX e inícios do século XX, o quarto por ter sido o primeiro Presidente da República.

Foi preciso esperar pelo 25 de Abril de 1974 e pela implementação da democracia, para que outros portugueses ganhassem o direito a entrar no Panteão Nacional.

E mais do que simbolicamente o primeiro foi Humberto Delgado, o General Sem Medo, opositor do Estado Novo. Curiosamente, de todos os portugueses que repousam na Igreja de Santa Engrácia, Humberto Delgado é o único que não faleceu em Lisboa, por ter sido assassinado pela PIDE nos arredores de Olivença, a 13 de fevereiro de 1965.

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No ano 2000, a Assembleia da República redefiniu os critérios de admissão no Panteão Nacional: “Homenagear e perpetuar a memória dos cidadãos que se distinguiram por serviços prestados ao país, no exercício de altos cargos públicos, altos serviços militares, na expansão da cultura portuguesa, na criação literária, científica e artística ou na defesa dos valores da civilização, em prol da dignificação da pessoa humana e da causa da liberdade”.

É assim que em 2001 Amália Rodrigues se tornou na primeira mulher e na primeira personalidade do espectáculo a entrar no Panteão Nacional. A fadista era uma amiga especial de Eusébio, que a chorou como quem perdeu uma irmã em setembro de 1999. Ambos levaram o nome de Portugal pelo Mundo fora mas recusaram ser bandeiras de propaganda do Estado Novo.

Depois de Amália, seguiram-se Manuel de Arriaga (2004), Aquilino Ribeiro (2007) e Sophia de Mello Breyner Andersen (2014).

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Curiosamente, em 2011, a Assembleia da República recusou a transladação para o Panteão Nacional do homem que propôs a sua criação, Passos Manuel, e do compositor Marcos Portugal, por “restrições orçamentais”.

Esta sexta-feira, Eusébio da Silva Ferreira torna-se no primeiro desportista a entrar no Panteão Nacional e naquele que merece tal honra pouco mais de um ano após o seu desaparecimento.

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