Record - Que recordações guarda do tempo que passou pelo Sporting? Foi o melhor período da sua carreira?
Juskowiak - Considero que as minhas melhores exibições foram conseguidas ao serviço Wolfsburg. De certeza que fui mais eficaz. Durante três temporadas lá tive a melhor média de golos marcados no campeonato. Em Portugal não o consegui. Mas tenho lembranças muito boas do tempo que lá joguei. É um país muito interessante. Lembro-me que quando lá cheguei, havia uma grande diferença relativamente ao resto da Europa. Hoje em dia, essas diferenças quase desapareceram.
R - Jogou no Sporting ao lado de Luís Figo. Como era actuar ao lado de um atleta que é actualmente um dos melhores futebolistas do Mundo?
J - Foi uma época maravilhosa, durante a qual aprendi muito. Não era só o Figo. Também tínhamos Balakov e Amunike. Era uma equipa muito jovem e cheia de grandes jogadores, destinados a grandes carreiras individuais. Portugal é bem conhecido pela formação de grandes valores, que mais tarde chegam aos melhores clubes do Mundo. Não era por acaso que nos nossos jogos, as assistências chegassem a 75 mil espectadores. O meu Sporting tinha o futebol mais interessante e vistoso da liga.
R - O ano passado não faltou muito para que duas equipas da cidade do Porto chegassem à final da Taça UEFA. Acha que isso pode significar mais sucessos portugueses no futuro?
J - Portugal tem muitas estrelas e por isso pode contar-se sempre com a selecção nacional. Já aos clubes falta essa dimensão internacional. A única excepção é mesmo o FC Porto, que é conduzido de forma exemplar. O seu treinador, José Mourinho, foi assistente de Bobby Robson quando eu jogava no Sporting. Ele trabalhava como tradutor e foi com Robson para Barcelona, onde aperfeiçoou as qualidades que põe agora em prática no FC Porto. Mourinho comanda uma equipa com grande potencial, em especial no ataque. Mas creio que também o Boavista, se tivesse atacado um pouco mais na meia-final com o Celtic, em vez de jogar para o empate, poderia ter chegado à final.
«Se ganhássemos ao Benfica perdoavam-nos tudo»
R - Os jogos mais interessantes eram, seguramente, com o Benfica. Há diferenças entre este "derby" português e outros, noutros países em que tenha jogado?
J - A maior diferença é no número de fãs. Os estádios estão completamente cheios e uma semana ou duas antes do encontro já se sente a tensão na cidade. A imprensa informa sobre cada movimento. Pode ler-se de tudo sobre os jogadores e os clubes. Nada escapa à opinião pública: o menor acontecimento, a mais pequena declaração pode descambar em escândalo. Tudo desperta o interesse dos lisboetas que de manhã até à noite discutem nos bares e nas ruas o que esperam da partida. É uma máquina incrível, poucas vezes vista noutros países. De tal maneira que não importava se perdêssemos o campeonato. Se ganhássemos ao Benfica perdoavam-nos tudo.
«Sinto-me em casa em Portugal»
R - De Portugal, mudou para outro país do Sul da Europa, a Grécia, onde alinhou no Olimpiakos. O futebol grego é muito diferente do português?
J - É completamente diferente. Em Portugal, o futebol é a modalidade número um, enquanto na Grécia é o basquetebol. Os gregos não vivem o fuutebol diariamente. Em Portugal, o presidente do Benfica ou do Sporting é mais conhecido que o Presidente da República. Por isso, é natural que o campeonato português tenha um nível mais elevado.
R - Considera regressar a Portugal depois de encerrar a sua carreira desportiva?
J - A minha mulher gostaria muito, mas ainda não sei o que vou fazer. Há a possibilidade de colaborar com o meu agente em Portugal. Falo a língua e poderia dedicar-me a esse trabalho.
R - Tem um restaurante em Portugal.
J - Sou sócio de um restaurante italiano em Cascais. Portugal é o país favorito da minha família. A minha mulher e filhos adoram. No Inverno, quando vemos as fotografias das férias, mal conseguimos esperar pela próxima visita. E depois temos muito amigos portugueses. Sinto-me em casa em Portugal.
R - Quais os seus locais favoritos em Portugal?
J - Definitivamente Cascais, onde tenho casa. Cada vez que lá vamos planeamos fazer excursões pelo País mas o sol mantém-nos na praia. Adoramos ir a Lisboa, a cidade está cada vez mais bonita. E também gostamos muito de visitar Sintra. Vamos aos bares pequenos onde servem a típica comida portuguesa.
R - O que é que mais gosta na cozinha portuguesa?
J - Sobretudo o peixe e o marisco. É impressionante a diversidade de pescado e a possibilidade de comer peixe fresco a toda a hora. Gosto de tudo, mas em especial da cataplana.
R - Já considerou abrir um restaurante português na Polónia?
J - Em Poznán há muitos portugueses. E sempre que falava com algum deles, louvavam muito a cozinha polaca. Provavelmente não viam a necessidade de ter cozinha portuguesa na Polónia. Poznán está muito perto de Berlim onde há dois ou três restaurantes portugueses de muito bom nível. trazem tudo de Portugal e, realmente, sente-se o país quando lá entramos.
R - Que bebida portuguesa nos recomendaria?
J - A preferida dos portugueses é o café. Todos os dias o bebem, forte e em copos pequenos. Levamos frequentemente café de Portugal para a Polónia. E também gosto da cerveja portuguesa.
«Faltou organização a Portugal no Mundial»
R - O Campeonato do Mundo da Coreia/Japão já é coisa do passado, mas pergunto: o que é que contribuiu para a derrota da Polónia?
J - Depois de uma campanha muito boa para a qualificação, o jogo com Portugal acabou por resultar em desaire. Nessa altura estava em Portugal e pude observar que os próprios portugueses não perceberam por que é que, estando a sua equipa em tão má forma, conseguiram vencer com tanta facilidade.
R - No balanço do campeonato, verificou-se que a vitória sobre a Polónia foi mesmo a única coisa positiva de uma campanha desastrosa. Que explicação encontra?
J - Creio que as estrelas da equipa estavam cansadas, pois tinham todos acabado campeonatos muito duros e desgastantes. Luís Figo, por exemplo, foi só uma sombra do jogador que costuma ser no Real Madrid. E também Rui Costa não esteve bem no Mundial. Além disso, não havia muita confiança em Vítor Baía, que voltou às redes após afastamento da titularidade. Aliás, notaram-se-lhe algumas falhas. Em suma, a equipa passava pelos mal-entendidos que já vinham da fase de qualificação. Desde o início percebia-se que havia algo que não estava bem entre os jogadores. As esperanças eram grandes e a pressão também. A somar a tudo isto, faltou alguma organização para poderem ir mais longe.
R - Quais são as verdadeiras hipóteses de Portugal no Europeu que se avizinha?
J - A contratação de Luiz Felipe Scolari foi acertadíssima, pois é um técnico habituado a lidar com enormes pressões. No Brasil exigiu-se dele o título mundial porque lá mesmo o segundo lugar é considerado uma derrota. Não tenho dúvidas acerca do valor da selecção portuguesa e o Campeonato da Europa em Portugal vai ser um grande espectáculo. E os portugueses vão ter um papel importante a desempenhar.