Após uma fantástica estreia no Tour, onde ajudou ao triunfo de Tadej Pogacar e ainda terminou em 4.º lugar, João Almeida entra na Vuelta como um dos principais candidatos a chegar a Madrid com a camisola ‘roja’. Apenas mais um aliciante para uma prova já de si normalmente animada. E, como extra, desta vez o tiro de partida é dado em Portugal. Acompanhe tudo neste guia que Record voltou a preparar para si.
Este ano, como sempre, toda a Vuelta contará com transmissão em direto para Portugal no Eurosport e na plataforma MAX, mas também poderá seguir as incidências das principais etapas no site de Record.
O percurso (analisado etapa a etapa), as equipas e os seus objetivos (ao detalhe), mas também recordar a história e aquilo que os portugueses por lá fizeram. Há ainda espaço para curiosidades e muito mais! Está tudo aqui!
Numa altura em que o ciclismo português vive um momento dourado, com nomes como João Almeida a estarem no topo internacional da estrada, mas também com dois novos campeões olímpicos na pista, a terceira Grande Volta do calendário internacional está de volta a solo nacional, mais de 27 anos depois da última vez.
Serão três tiradas em estradas portuguesas, a começar logo com um contrarrelógio que pode ditar algumas diferenças entre candidatos. Ainda assim, a primeira etapa que pode mexer com a tabela será já em solo espanhol, com uma quarta tirada em terreno montanhoso. Ao todo, serão 8 as etapas desta forma categorizadas, juntando-se a estas mais cinco de média montanha e outras cinco de 'sobe e desce'. E, depois, a fechar, sem tempo para passeios de consagração, Madrid recebe um contrarrelógio que pode definir o grande vencedor da 79.ª edição da prova espanhola. No total, a Vuelta irá ter cerca de 3.200 quilómetros, divididos pelas habituais 21 etapas.
Quer saber o percurso, etapa a etapa? É só ler as linhas abaixo, numa análise da autoria de Marques dos Santos.
Etapa 1: Lisboa a Oeiras (12 km, contrarrelógio individual)
É em solo lusitano que será dado o tiro de partida para mais uma edição da Volta à Espanha. Na capital portuguesa, a última grande volta da temporada vai arrancar com um contrarrelógio curto, mas explosivo, que deverá ser dominado pelos principais especialistas nesta vertente do pelotão. O vento junto à costa será a principal dificuldade para os ciclistas.
Aposta: Joshua Tarling (Ineos)
Etapa 2: Cascais a Ourém (194 km) 
Embora sem dificuldades de maior, o constante sobe e desce da segunda tirada da Vuelta não facilitará a vida aos mais puros dos sprinters. A ascensão ao Alto da Batalha, já nos últimos 20 km, pode perfeitamente vir a revelar-se o momento-chave da etapa, com as equipas dos velocistas mais capazes de superar o terreno inclinado a poderem aproveitá-la para fazer uma seleção prévia no pelotão e eliminar alguns rivais mais frágeis nestas dificuldades.
Aposta: Wout van Aert (Visma)
Etapa 3: Lousã a Castelo Branco (191,5 km)
Ao terceiro dia, o último corrido exclusivamente em estradas portuguesas, os ciclistas terão nova etapa de terreno acidentado, com especial destaque para a 2.ª categoria no Alto de Teixeira. Ainda assim, essa ascensão surge a meio da etapa e embora os corredores ainda tenham uma 4.ª categoria pela frente depois disso, tudo indica que será mais uma etapa para ser discutida pelos sprinters.
Aposta: Kaden Groves (Alpecin)
Etapa 4: Plasencia a Pico Villuercas (170,5 km) 
A entrada do pelotão da Vuelta em Espanha coincidirá igualmente com o primeiro real teste aos homens da geral. Com quatro subidas categorizadas, a etapa será de dureza máxima do princípio ao fim e a maior dificuldade está mesmo reservada para a chegada, no topo do Pico Villuercas, já que os últimos quilómetros raramente baixam dos 10 por cento de inclinação. A fuga tentará a sua sorte, mas os favoritos não deverão desperdiçar esta primeira oportunidade para fazer diferenças.
Aposta: João Almeida (UAE Emirates)
Etapa 5: Fuente del Maestre a Sevilha (177 km)
O pelotão ruma até à Andaluzia naquela que é a etapa mais obviamente direcionada para os velocistas em prova. Apesar de um início algo acidentado, a segunda metade da tirada será plana e sem dificuldades, facilitando o trabalho das equipas dos sprinters para anular a fuga.
Aposta: Kaden Groves (Alpecin)
Etapa 6: Jerez De La Frontera a Yunquera (185.5 km) 
A tal etapa que terá como ponto de partida o interior de um supermercado, conta com uma 1.ª categoria ainda numa fase inicial, a que se seguirão quatro 3.ª categorias, a última das quais levará os ciclistas até à meta. Face às dificuldades perspetivadas, o dia parece ideal para uma fuga com trepadores competentes, mas caso um pelotão reduzido chegue junto ao fim, os ciclistas mais explosivos poderão celebrar.
Aposta: Pelayo Sanchez (Movistar)
Etapa 7: Archidona a Córdoba (180.5 km) 
Um pouco à imagem do dia anterior, esta etapa também deverá ser concluída com um sprint protagonizado por um pelotão já algo delapidado fruto da ascensão Alto del 14%, a cerca de 25 quilómetros da meta. Ainda assim, esta é mesmo a única dificuldade do dia, pelo que os sprinters mais capacitados para sobreviver a este obstáculo serão óbvios candidatos a lutar pela vitória.
Aposta: Wout van Aert (Visma)
Etapa 8: Úbeda a Cazorla (159 km) 
Removendo a equação o contrarrelógio inaugural, esta será a tirada mais curta da primeira semana da Vuelta e apresenta-se como mais uma bela oportunidade para um triunfo da fuga. Com apenas duas ascensões categorizadas, não é expectável que o dia traga grandes diferenças entre os homens que lutam pela classificação geral.
Aposta: Mauro Schmid (Team Jayco)
Etapa 9: Motril a Granada (178.5 km) 
Como não poderia deixar de ser, a última etapa antes do primeiro dia de descanso é de alta montanha, com três 1.ª categorias, que serão certamente exploradas pelos favoritos à vitória final para testar os rivais. Embora não haja chegada em alto, as duas passagens pelo Alto de Azzallanas (7.1 km a 9,5%), serão fulcrais para o desfecho da tirada.
Aposta: Primoz Roglic (Red Bull-Bora)
Etapa 10: Ponteareas a Baiona (160 km) 
Após um dia de descanso em que os ciclistas farão a viagem do sul para o norte de Espanha, mais concretamente até à Galiza, a Vuelta remota a competição com nova etapa de montanha. Para início de conversa haverá uma 1.ª categoria bem perto do arranque para testar as pernas dos atletas, após a qual haverá margem para recuperar o fôlego antes das dificuldades. O topo do Alto de Mougás está a 20 km da meta, mas tem bonificações preciosas para os favoritos, caso a fuga seja anulada.
Aposta: Thomas de Gendt (Lotto Dstny)
Etapa 11: Campús Tecnológico Cortizo a Campús Tecnológico Cortizo (166.5 km) 
Com um sobe e desce constante, mas sem montanhas que, no plano teórico, permitam aos candidatos à geral fazer grandes dificuldades, o dia parece destinado ao sucesso de uma fuga, até porque o terreno acidentado vai complicar bastante a tarefa do pelotão para controlar a corrida. A subida ao Puerto Cruixeiras (2.9 km a 8,9%) a menos de 10km da meta deverá ditar o vencedor da etapa.
Aposta: Eduardo Sepúlveda (Lotto Dstny)
Etapa 12: Ourense Termal a Estación de Montaña de Manzaneda (137.5 km) 
A etapa em linha mais curta desta edição da Volta a Espanha, o terreno será quase sempre a subir, mas o desafio está reservado para o final, onde os ciclistas têm à sua espera a subida à estação de ski de Manzaneda, uma 1.ª categoria com 15,4 km de ascensão e uma pendente média de 4,7%. Mas não se deixem enganar os mais desatentos, porque haverá rampas de 12% bem perto da linha de meta.
Aposta: Mattias Skjelmose (Lidl-Trek)
Etapa 13: Lugo a Puerto de Ancares (176 km) 
Depois de dois dias que podem perfeitamente sorrir à fuga, esta etapa será uma que os favoritos à geral não deixarão fugir. Como quatro montanhas categorizadas no menu, o fogo de artifício está reservado para o final com a estreia da subida até ao Puerto de Ancares. Esta autêntica parede que os ciclistas terão de escalar estende-se por 7.7 km com uma pendente média de 9% por cento, mas que sobe para os 12% nos cinco quilómetros finais, onde existirão também rampas de 15%. Promete!
Aposta: Adam Yates (UAE Emirates)
Etapa 14: Villafranca del Bierzo a Villablino (200 km) 
A etapa mais longa desta edição da Vuelta, o percurso é propício a uma vitória da fuga, mas nem por isso deverão faltar motivos de interesse na luta pela geral. Com um início relativo calmo nos primeiros dois terços do trajeto, apesar de uma 3.ª categoria a meio, as atenções estão viradas para a ascensão ao Puerto de Leitariegos, cuja extensão (22.8 km) deverá causar bem mais estragos que a inclinação (4,5%).
Aposta: Jhonatan Narváez (Ineos)
Etapa 15: Infiesto a Valgrande-Pajares (143 km) 
Antes do segundo dia de descanso, os ciclistas vão enfrentar uma das tiradas mais curtas da prova, que é, sem grandes surpresas, também uma das mais duras. Nas Astúrias, vão passar duas vezes pelo Alto de la Cobiadella (6.4 km a 8,2%), com uma 3.ª categoria pelo, antes de terminar no monumental Cuitu Negru, que fará apenas a sua segunda aparição na Vuelta. Com rampas acima dos 20% na reta final, a ascensão vai prolongar-se por praticamente 19 quilómetros, com uma pendente média de 7,4%. Dia de decisões para a classificação de geral em perspetiva.
Aposta: João Almeida (UAE Emirates)
Etapa 16: Luanco a Lagos de Covadonga (181.5 km) 
Se o dia de descanso não tiver sido suficiente para os ciclistas recuperarem as pernas, esta etapa pode perfeitamente vir a ser uma machadada final nas suas aspirações. Mais uma vez, haverá chegada em alto num cenário já mítico da Volta a Espanha – Lagos de Covadonga -, sendo que até lá chegarem serão primeiro ultrapassadas duas 1.ª categorias. No final, e mesmo com alguns segmentos em descida, os atletas terão pela frente uma parede de 12.5 km a 6.9%, que inclui rampas a 16%. Brutal! Ainda assim, uma fuga com ciclistas capazes neste terreno, mas já sem aspirações na geral pode muito bem vingar.
Aposta: Richard Carapaz (EF Education)
Etapa 17: Arnuero a Santander (143 km) 
Após a brutalidade das últimas duas etapas, os ciclistas terão pela frente um dia mais suave, que até pode ser discutido ao sprint, apesar das duas contagens de 2.ª categoria sensivelmente a meio da tirada. No entanto, para isso terá de existir força no pelotão para controlar e anular a fuga que tentará a sua sorte.
Aposta: Kaden Groves (Alpecin)
Etapa 18: Vitoria-Gasteiz a Maeztu (179 km) 
Embora não possa ser classificada como uma etapa de alta montanha, uma tirada corrida no País Basco também é praticamente uma garantia de ausência de terreno plano. A última subida categorizada está quase a 50 km da meta, mas o sobe e desce continuará até final, não sendo por isso de destacar ataques para a vitória na etapa nos quilómetros finais. Caso o pelotão assim o permita, uma fuga poderá igualmente sonhar com a subida ao pódio.
Aposta: Harold Tejada (Astana)
Etapa 19: Logroño a Alto de Moncalvillo (173.5 km) 
Bem ao estilo da Vuelta, os últimos dias da prova serão preenchidas por etapas decisivas para a classificação, começando com a chegada ao Alto de Moncalvillo. Depois de uma tirada relativamente tranquilo, será na última ascensão, de 8.6 km a 8,9%, mas com os quilómetros a ultrapassarem frequentemente os 10%, que os favoritos entrarão em ação para procurar fazer diferenças.
Aposta: Adam Yates (UAE Emirates)
Etapa 20: Villarcayo a Picón Blanco (173.5 km) 
Muita, mas mesmo muita montanha espera os ciclistas na penúltima etapa da Volta a Espanha. Não é uma, não são duas, nem são três subidas categorizada... serão setes as contagens de montanha que o pelotão já muito desgastado terá de ultrapassar antes do contrarrelógio final. A meta estará no topo do Picón Blanco (7.9 km a 9.1%) e mesmo que uma fuga venha a aproveitar o terreno acidentado para superar a perseguição do pelotão, é garantido que haverá ataques entre aqueles que ainda lutam pela classificação geral.
Aposta: Richard Carapaz (EF Education)
Etapa 21: Madrid a Madrid (24.6 km) 
Em terreno praticamente plano do princípio ao fim, o contrarrelógio final da Vuelta será para os mais puros especialistas nesta vertente. Contudo, será nas diferenças entre os homens de geral que estará o maior ponto de interesse para o público.
Aposta: Joshua Tarling (Ineos)
            Depois de Giro e Tour, é hora das equipas jogarem as últimas cartadas na temporada, para uma Vuelta que conta com um dos elencos mais fortes dos últimos anos. A lógica é a habitual, com 22 equipas presentes, 18 vindas do escalão UCI WorldTeams, 2 do UCI ProTeams e 2 convidadas, que como seria de esperar são espanholas, no caso a Equipo Kern Pharma e a lendária Euskaltel–Euskadi.
Abaixo poderá conhecer um pouco melhor cada uma delas, saber as suas apostas e quais os reais objetivos. Uma análise da autoria do especialista Pedro Filipe Pinto.
        
No Tour até acertámos nos dois primeiros da tabela e em seis do top-10, por isso para a Vuelta voltamos a arriscar lançar as nossas previsões. E desta feita fazendo figas que dê mesmo certo. Pelo menos no que ao primeiro lugar diz respeito. Dentro de três semanas saberemos se acertamos ou não...
João Almeida brilhou no Tour, Iúri Leitão e Rui Oliveira vestiram-se de ouro na pista nos Jogos Olímpicos e, quem sabe, não teremos agora um português a vencer uma grande volta pela primeira vez na história - o melhor resultado de sempre foi de Joaquim Agostinho, com um 2.º lugar em 1974. Sonhar não custa e a verdade é que João Almeida parece chegar à Vuelta mais candidato do que nunca a ganhar.
O ‘Bota Lume’ vai começar por dividir a liderança da UAE Team Emirates com Adan Yates, como quem participou tanto no Tour como na Volta à Suíça. Se em França foi João Almeida a sair por cima (4.º na geral contra 6.º), em terras helvéticas foi o britânico a sorrir, conquistando a prova precisamente à frente do português.
Os restantes portugueses no pelotão serão os experientíssimos Nélson Oliveira e Rui Costa. O ciclista da Movistar, de 35 anos, vai iniciar a 21.ª grande volta, isto depois de há poucas semanas ter feito 7.º no contrarrelógio dos Jogos Olímpicos. A expectativa é que possa ser um dos destaques logo no arranque da Vuelta, que se inicia com um contrarrelógio individual entre Lisboa e Oeiras.
Já Rui Costa vai para a 18.ª grande volta e com a missão de repetir o que fez na edição do ano passado da prova, onde venceu a 15.ª etapa. Esteve no Tour e tentou fazer das suas, mas talvez seja nas estradas espanholas (ou nas portuguesas) que volta a levantar os braços numa das principais provas da época.
A Volta a Espanha é a terceira e última prova de três semanas do calendário mundial, disputando-se entre agosto e setembro, depois do Giro e Tour, mas nem sempre foi assim. Entre 1935, ano da sua criação, até 1994, a corrida do país vizinho desenrolava-se entre abril e maio, sendo que em 2020, por causa da pandemia, teve lugar entre outubro e novembro.
Tudo começou em 1935, quando o ciclista/jornalista Clemente López Dóriga, em colaboração com Juan Pujol, diretor do diário ‘Informaciones’ decide criar a Volta a Espanha, 32 anos depois do surgimento da Volta a França e 38 também já com a Volta a Itália na estrada. A primeira edição teve 14 etapas, num total a rondar os 3.400 quilómetros - sendo que quatro tiradas superaram os 250 (!) quilómetros. E o primeiro campeão não foi um ciclista da casa, mas sim o belga Gustaaf Deloor, a terminar com 12 minutos para o espanhol Mariano Cañardo.
Deloor revalidaria o título no ano seguinte, antes da prova sofrer uma paragem devido à Guerra Civil espanhola, e também pela Segunda Guerra Mundial, para regressar em 1941, quase sem participação estrangeira. Foi então que se assistiu ao primeiro triunfo espanhol por Julián Berrendero, que venceria também em 1942.
Gustaaf Deloor venceu as duas primeiras edições da prova
Com a Segunda Guerra Mundial a arrastar-se no tempo, e com isso a crise económica, a Vuelta voltou a sofrer uma paragem, para depois ser retomada em 1945. Realizou-se até 1950, teria quatro anos de ausência, antes de se firmar como presença habitual no calendário a partir de 1955.
Na década de 60, o prestígio da prova ganha revelo, com as grandes estrelas do Giro e do Tour a marcarem presença e a inscreveram o nome no palmarés: Jacques Anquetil (1963), Raymond Poulidor (1964), mais tarde Eddy Merck (1973), Bernard Hinault (1978), que rivalizam com as estrelas locais, como Federico Bahamontes (foi 2.º em 1957) e Luis Ocaña (1970).
Nos anos 60, o então organizador da prova, o 'El Correo Español/El Pueblo Vasco', passava por grandes dificuldades financeiras que voltaram a colocar em risco a corrida. Mas ela foi realizando-se e nem mesmo um atentado terrorista em 1968 e outras manifestações conseguiram neutralizar a prova - ainda que tenha havido uma etapa anulada devido a estes acontecimentos.
O início da década de 90 ficou marcado pela era Tony Rominger. O suíço venceu três edições seguidas (1992 a 1994), sendo que nos primórdios da década de 2000 as vitórias foram caseiras, com Roberto Heras a vencer por quatro vezes. Até que entra em ação Alberto Contador, até hoje um ciclista que deixou saudades pela sua forma de correr: um ciclista de ataque, inconformado, um trepador de excelência.
Depois, eis que se chega o domínio de Primoz Roglic (tricampeão de 2019 a 2021), para em 2022 o título ser conseguido por Remco Evenepoel, o primeiro belga campeão após Eddy Merckx. Em 2023, num pódio histórico, a Jumbo-Visma deu conta dos três primeiros lugares, com o gregário de luxo Sepp Kuss a conseguir (a muito custo perante a relutância dos seus colegas) bateram Jonas Vingegaard e Primoz Roglic.
Roberto Heras é o recordista de vitórias, com 4
Lisboa fez história
Em 79 edições da Volta a Espanha (incluindo a de 2024), a prova começou no estrangeiro por cinco vezes. E a primeira, em 1997, foi em Portugal, mais concretamente na região de Lisboa com três etapas: a primeira entre Lisboa e o Estoril (autódromo); a segunda a ligar Évora a Vilamoura e a terceira com início em Loulé e final já em Espanha, em Huelva. Na liderança saiu de Portugal o dinamarquês Lars Michaelsen (Farm Frites), sendo que esta edição foi ganha pelo suíço Alex Zulle (ONCE).
Repete-se, por isso, o cenário deste ano, com nova partida de Lisboa e uma vez mais com três etapas, mas com um percurso bem distinto - em vez de ir para Sul, o pelotão ruma a Norte.
Além de Portugal, a Vuelta teve o seu início em Assen (Holanda) em 2009, em Nimes (França) em 2017 e mais recentemente regressaria à Holanda, mas a Utrecht (2022).
            Para os amantes portugueses de ciclismo e para os próprios corredores, a Vuelta nunca despertou tantas atenções e emoções como o Tour e, mais recentemente, o Giro, este por ‘culpa’ de João Almeida. No entanto, ao longo das 78 edições da corrida espanhola, 33 ciclistas nacionais marcaram presença e terminaram por 10 vezes entre os 10 primeiros da classificação geral final.
O último a consegui-lo foi João Almeida, no ano passado e há dois anos, com um 5.º e um 9.º posto finais. Mas o melhor registo de um português pertence a Joaquim Agostinho, com o 2.º lugar na edição de 1974. Nessa corrida, o malogrado corredor de Torres Vedras perdeu o título para o espanhol José Manuel Fuente por apenas… 11 segundos. A corrida decidiu-se apenas no contrarrelógio final, Agostinho, que tinha ganho já duas etapas, foi arrasador e chegou a ser declarado vencedor, só que os comissários acabaram por dar a vitória ao espanhol, por considerarem que a contagem dos tempos tinha sido mal feita. Uma decisão polémica que, na altura, deixou muitas suspeitas. Agostinho ainda participou por mais 4 vezes na Vuelta. Na sua estreia, em 1972, abandonou, mas nas restantes presenças concluiu 6.º, 7.º e 15.º.
            Apesar de ainda ser o país dominador claro no número de vitórias finais (31), Espanha vai já num jejum de nove anos sem ver um ciclista nacional a conseguir vencer a sua prova principal. E muito provavelmente... assim se manterá. Alberto Contador, que é um dos três ciclistas que venceu a prova por três vezes (Tony Rominger e Primoz Roglic são os outros dois) foi o último da casa a triunfar, quando em 2014 ergueu mais alto os braços no final em Madrid.
Desde então, Itália, Colômbia, Grã-Bretanha, Eslovénia, Bélgica e Estados Unidos celebraram, com especial destaque para o já citado Roglic, que venceu entre 2019 e 2021. Este ano, o agora ciclista da Red Bull-Bora está de volta às estradas espanholas e vai tentar igualar Roberto Heras como recordista de triunfos, mas resta saber se terá pernas para se bater com a juventude que tem despontado, mas também com o seu ex-colega de equipa Sepp Kuss.