Guia completo da Vuelta'2024

PUB

Após uma fantástica estreia no Tour, onde ajudou ao triunfo de Tadej Pogacar e ainda terminou em 4.º lugar, João Almeida entra na Vuelta como um dos principais candidatos a chegar a Madrid com a camisola ‘roja’. Apenas mais um aliciante para uma prova já de si normalmente animada. E, como extra, desta vez o tiro de partida é dado em Portugal. Acompanhe tudo neste guia que Record voltou a preparar para si.

Este ano, como sempre, toda a Vuelta contará com transmissão em direto para Portugal no Eurosport e na plataforma MAX, mas também poderá seguir as incidências das principais etapas no site de Record.

O percurso (analisado etapa a etapa), as equipas e os seus objetivos (ao detalhe), mas também recordar a história e aquilo que os portugueses por lá fizeram. Há ainda espaço para curiosidades e muito mais! Está tudo aqui! 



Numa altura em que o ciclismo português vive um momento dourado, com nomes como João Almeida a estarem no topo internacional da estrada, mas também com dois novos campeões olímpicos na pista, a terceira Grande Volta do calendário internacional está de volta a solo nacional, mais de 27 anos depois da última vez.

Serão três tiradas em estradas portuguesas, a começar logo com um contrarrelógio que pode ditar algumas diferenças entre candidatos. Ainda assim, a primeira etapa que pode mexer com a tabela será já em solo espanhol, com uma quarta tirada em terreno montanhoso. Ao todo, serão 8 as etapas desta forma categorizadas, juntando-se a estas mais cinco de média montanha e outras cinco de 'sobe e desce'. E, depois, a fechar, sem tempo para passeios de consagração, Madrid recebe um contrarrelógio que pode definir o grande vencedor da 79.ª edição da prova espanhola. No total, a Vuelta irá ter cerca de 3.200 quilómetros, divididos pelas habituais 21 etapas.

Quer saber o percurso, etapa a etapa? É só ler as linhas abaixo, numa análise da autoria de Marques dos Santos.

Etapa 1: Lisboa a Oeiras (12 km, contrarrelógio individual)

É em solo lusitano que será dado o tiro de partida para mais uma edição da Volta à Espanha. Na capital portuguesa, a última grande volta da temporada vai arrancar com um contrarrelógio curto, mas explosivo, que deverá ser dominado pelos principais especialistas nesta vertente do pelotão. O vento junto à costa será a principal dificuldade para os ciclistas.

Aposta: Joshua Tarling (Ineos)


Etapa 2: Cascais a Ourém (194 km) 

Embora sem dificuldades de maior, o constante sobe e desce da segunda tirada da Vuelta não facilitará a vida aos mais puros dos sprinters. A ascensão ao Alto da Batalha, já nos últimos 20 km, pode perfeitamente vir a revelar-se o momento-chave da etapa, com as equipas dos velocistas mais capazes de superar o terreno inclinado a poderem aproveitá-la para fazer uma seleção prévia no pelotão e eliminar alguns rivais mais frágeis nestas dificuldades. 

Aposta: Wout van Aert (Visma)

Etapa 3: Lousã a Castelo Branco (191,5 km) 

Ao terceiro dia, o último corrido exclusivamente em estradas portuguesas, os ciclistas terão nova etapa de terreno acidentado, com especial destaque para a 2.ª categoria no Alto de Teixeira. Ainda assim, essa ascensão surge a meio da etapa e embora os corredores ainda tenham uma 4.ª categoria pela frente depois disso, tudo indica que será mais uma etapa para ser discutida pelos sprinters. 

Aposta: Kaden Groves (Alpecin)


Etapa 4: Plasencia a Pico Villuercas (170,5 km) 

A entrada do pelotão da Vuelta em Espanha coincidirá igualmente com o primeiro real teste aos homens da geral. Com quatro subidas categorizadas, a etapa será de dureza máxima do princípio ao fim e a maior dificuldade está mesmo reservada para a chegada, no topo do Pico Villuercas, já que os últimos quilómetros raramente baixam dos 10 por cento de inclinação. A fuga tentará a sua sorte, mas os favoritos não deverão desperdiçar esta primeira oportunidade para fazer diferenças. 

Aposta: João Almeida (UAE Emirates)

Etapa 5: Fuente del Maestre a Sevilha (177 km) 

O pelotão ruma até à Andaluzia naquela que é a etapa mais obviamente direcionada para os velocistas em prova. Apesar de um início algo acidentado, a segunda metade da tirada será plana e sem dificuldades, facilitando o trabalho das equipas dos sprinters para anular a fuga. 

Aposta: Kaden Groves (Alpecin)


Etapa 6: Jerez De La Frontera a Yunquera (185.5 km) 

A tal etapa que terá como ponto de partida o interior de um supermercado, conta com uma 1.ª categoria ainda numa fase inicial, a que se seguirão quatro 3.ª categorias, a última das quais levará os ciclistas até à meta. Face às dificuldades perspetivadas, o dia parece ideal para uma fuga com trepadores competentes, mas caso um pelotão reduzido chegue junto ao fim, os ciclistas mais explosivos poderão celebrar. 

Aposta: Pelayo Sanchez (Movistar)


Etapa 7: Archidona a Córdoba (180.5 km) 

Um pouco à imagem do dia anterior, esta etapa também deverá ser concluída com um sprint protagonizado por um pelotão já algo delapidado fruto da ascensão Alto del 14%, a cerca de 25 quilómetros da meta. Ainda assim, esta é mesmo a única dificuldade do dia, pelo que os sprinters mais capacitados para sobreviver a este obstáculo serão óbvios candidatos a lutar pela vitória.  

Aposta: Wout van Aert (Visma)


Etapa 8: Úbeda a Cazorla (159 km) 

Removendo a equação o contrarrelógio inaugural, esta será a tirada mais curta da primeira semana da Vuelta e apresenta-se como mais uma bela oportunidade para um triunfo da fuga. Com apenas duas ascensões categorizadas, não é expectável que o dia traga grandes diferenças entre os homens que lutam pela classificação geral. 

Aposta: Mauro Schmid (Team Jayco)


Etapa 9: Motril a Granada (178.5 km) 

Como não poderia deixar de ser, a última etapa antes do primeiro dia de descanso é de alta montanha, com três 1.ª categorias, que serão certamente exploradas pelos favoritos à vitória final para testar os rivais. Embora não haja chegada em alto, as duas passagens pelo Alto de Azzallanas (7.1 km a 9,5%), serão fulcrais para o desfecho da tirada. 

Aposta: Primoz Roglic (Red Bull-Bora)


Etapa 10: Ponteareas a Baiona (160 km) 

Após um dia de descanso em que os ciclistas farão a viagem do sul para o norte de Espanha, mais concretamente até à Galiza, a Vuelta remota a competição com nova etapa de montanha. Para início de conversa haverá uma 1.ª categoria bem perto do arranque para testar as pernas dos atletas, após a qual haverá margem para recuperar o fôlego antes das dificuldades. O topo do Alto de Mougás está a 20 km da meta, mas tem bonificações preciosas para os favoritos, caso a fuga seja anulada. 

Aposta: Thomas de Gendt (Lotto Dstny)


Etapa 11: Campús Tecnológico Cortizo a Campús Tecnológico Cortizo (166.5 km) 

Com um sobe e desce constante, mas sem montanhas que, no plano teórico, permitam aos candidatos à geral fazer grandes dificuldades, o dia parece destinado ao sucesso de uma fuga, até porque o terreno acidentado vai complicar bastante a tarefa do pelotão para controlar a corrida. A subida ao Puerto Cruixeiras (2.9 km a 8,9%) a menos de 10km da meta deverá ditar o vencedor da etapa. 

Aposta: Eduardo Sepúlveda (Lotto Dstny)


Etapa 12: Ourense Termal a Estación de Montaña de Manzaneda (137.5 km) 

A etapa em linha mais curta desta edição da Volta a Espanha, o terreno será quase sempre a subir, mas o desafio está reservado para o final, onde os ciclistas têm à sua espera a subida à estação de ski de Manzaneda, uma 1.ª categoria com 15,4 km de ascensão e uma pendente média de 4,7%. Mas não se deixem enganar os mais desatentos, porque haverá rampas de 12% bem perto da linha de meta. 

Aposta: Mattias Skjelmose (Lidl-Trek)


Etapa 13: Lugo a Puerto de Ancares (176 km) 

Depois de dois dias que podem perfeitamente sorrir à fuga, esta etapa será uma que os favoritos à geral não deixarão fugir. Como quatro montanhas categorizadas no menu, o fogo de artifício está reservado para o final com a estreia da subida até ao Puerto de Ancares. Esta autêntica parede que os ciclistas terão de escalar estende-se por 7.7 km com uma pendente média de 9% por cento, mas que sobe para os 12% nos cinco quilómetros finais, onde existirão também rampas de 15%. Promete! 

Aposta: Adam Yates (UAE Emirates)


Etapa 14: Villafranca del Bierzo a Villablino (200 km) 

A etapa mais longa desta edição da Vuelta, o percurso é propício a uma vitória da fuga, mas nem por isso deverão faltar motivos de interesse na luta pela geral. Com um início relativo calmo nos primeiros dois terços do trajeto, apesar de uma 3.ª categoria a meio, as atenções estão viradas para a ascensão ao Puerto de Leitariegos, cuja extensão (22.8 km) deverá causar bem mais estragos que a inclinação (4,5%). 

Aposta: Jhonatan Narváez (Ineos)


Etapa 15: Infiesto a Valgrande-Pajares (143 km) 

Antes do segundo dia de descanso, os ciclistas vão enfrentar uma das tiradas mais curtas da prova, que é, sem grandes surpresas, também uma das mais duras. Nas Astúrias, vão passar duas vezes pelo Alto de la Cobiadella (6.4 km a 8,2%), com uma 3.ª categoria pelo, antes de terminar no monumental Cuitu Negru, que fará apenas a sua segunda aparição na Vuelta. Com rampas acima dos 20% na reta final, a ascensão vai prolongar-se por praticamente 19 quilómetros, com uma pendente média de 7,4%. Dia de decisões para a classificação de geral em perspetiva.  

Aposta: João Almeida (UAE Emirates)


Etapa 16: Luanco a Lagos de Covadonga (181.5 km) 

Se o dia de descanso não tiver sido suficiente para os ciclistas recuperarem as pernas, esta etapa pode perfeitamente vir a ser uma machadada final nas suas aspirações. Mais uma vez, haverá chegada em alto num cenário já mítico da Volta a Espanha – Lagos de Covadonga -, sendo que até lá chegarem serão primeiro ultrapassadas duas 1.ª categorias. No final, e mesmo com alguns segmentos em descida, os atletas terão pela frente uma parede de 12.5 km a 6.9%, que inclui rampas a 16%. Brutal! Ainda assim, uma fuga com ciclistas capazes neste terreno, mas já sem aspirações na geral pode muito bem vingar. 

Aposta: Richard Carapaz (EF Education)


Etapa 17: Arnuero a Santander (143 km) 

Após a brutalidade das últimas duas etapas, os ciclistas terão pela frente um dia mais suave, que até pode ser discutido ao sprint, apesar das duas contagens de 2.ª categoria sensivelmente a meio da tirada. No entanto, para isso terá de existir força no pelotão para controlar e anular a fuga que tentará a sua sorte. 

Aposta: Kaden Groves (Alpecin)


Etapa 18: Vitoria-Gasteiz a Maeztu (179 km) 

Embora não possa ser classificada como uma etapa de alta montanha, uma tirada corrida no País Basco também é praticamente uma garantia de ausência de terreno plano. A última subida categorizada está quase a 50 km da meta, mas o sobe e desce continuará até final, não sendo por isso de destacar ataques para a vitória na etapa nos quilómetros finais. Caso o pelotão assim o permita, uma fuga poderá igualmente sonhar com a subida ao pódio. 

Aposta: Harold Tejada (Astana)


Etapa 19: Logroño a Alto de Moncalvillo (173.5 km) 

Bem ao estilo da Vuelta, os últimos dias da prova serão preenchidas por etapas decisivas para a classificação, começando com a chegada ao Alto de Moncalvillo. Depois de uma tirada relativamente tranquilo, será na última ascensão, de 8.6 km a 8,9%, mas com os quilómetros a ultrapassarem frequentemente os 10%, que os favoritos entrarão em ação para procurar fazer diferenças. 

Aposta: Adam Yates (UAE Emirates)


Etapa 20: Villarcayo a Picón Blanco (173.5 km) 

Muita, mas mesmo muita montanha espera os ciclistas na penúltima etapa da Volta a Espanha. Não é uma, não são duas, nem são três subidas categorizada... serão setes as contagens de montanha que o pelotão já muito desgastado terá de ultrapassar antes do contrarrelógio final. A meta estará no topo do Picón Blanco (7.9 km a 9.1%) e mesmo que uma fuga venha a aproveitar o terreno acidentado para superar a perseguição do pelotão, é garantido que haverá ataques entre aqueles que ainda lutam pela classificação geral. 

Aposta: Richard Carapaz (EF Education)



Etapa 21: Madrid a Madrid (24.6 km) 

Em terreno praticamente plano do princípio ao fim, o contrarrelógio final da Vuelta será para os mais puros especialistas nesta vertente. Contudo, será nas diferenças entre os homens de geral que estará o maior ponto de interesse para o público. 

Aposta: Joshua Tarling (Ineos)

PUB

Depois de Giro e Tour, é hora das equipas jogarem as últimas cartadas na temporada, para uma Vuelta que conta com um dos elencos mais fortes dos últimos anos. A lógica é a habitual, com 22 equipas presentes, 18 vindas do escalão UCI WorldTeams, 2 do UCI ProTeams e 2 convidadas, que como seria de esperar são espanholas, no caso a Equipo Kern Pharma e a lendária Euskaltel–Euskadi.

Abaixo poderá conhecer um pouco melhor cada uma delas, saber as suas apostas e quais os reais objetivos. Uma análise da autoria do especialista Pedro Filipe Pinto.

Visma–Lease a Bike

Os campeões em título trazem uma excelente equipa, mas será que trazem um líder capaz de repetir a gracinha de 2023. Sepp Kuss foi o vencedor da última edição, é um trepador do melhor que há, mas está longe de ser o principal favorito à vitória. Até porque este ano não há Roglic e Vingegaard para o proteger. A diferença é que, desta vez, é o líder declarado e terá a ajuda de Gesink, Kruijswijk, Valter, Van Baarle e Cian Uijtdebroeks, com este último a estar preparado para assumir a liderança, caso algo aconteça ao norte-americano. No entanto, a grande garantia da Visma é Wout van Aert. O craque belga não estava na melhor forma no Tour e, mesmo assim, quase levou duas etapas, pelo que aqui, com sprinters menos qualificados, é o principal candidato nas chegadas em pelotão compacto e à classificação dos pontos.

PUB

UAE Team Emirates


Apesar do excelente bloco da Red Bull - ver abaixo -, a Emirates é, tal como no Tour, a equipa mais forte nesta edição da Vuelta e vai tentar imitar o que a Jumbo (agora Visma) fez em 2023 - ganhar as 3 grandes voltas. Para isso, leva João Almeida e Adam Yates, fiéis escudeiros de Tadej Pogacar no França que, agora, têm a recompensa: vão lutar pela conquista da primeira prova de três semanas da carreira. Se estes dois se entenderem tão bem como fizeram na Volta a Suíça (o britânico ganhou e o português ficou em segundo com duas vitórias para cada), será uma dupla de impor respeito. Para além disso, há ainda McNulty, Vine, Sivakov, Soler e Del Toro (campeão em título da Volta a França do futuro), ou seja... uma super equipa de montanha. Coitado é do Baroncini, que, se Almeida ou Yates chegarem à liderança, será o único com características para controlar as etapas nas fases planas. O objetivo é só um: ganhar! E há boas perspetivas para isso. Seria quase poético um português ganhar uma grande volta pela primeira vez quando a corrida parte... em Portugal. João Almeida é dos grandes favoritos e, por isso, podemos sonhar!


Bahrain Victorious

Depois de um Tour que deixou a desejar, a Bahrain apresenta-se com um bloco bastante respeitável na Vuelta. Com o veterano Damiano Caruso a ser a principal voz de comando da equipa, as esperanças para um bom resultado na classificação estão depositadas no italiano Antonio Tiberi, que esta época já alcançou um motivador quinto lugar no Giro, posto que pretende melhorar agora na última grande volta do ano. No seu apoio nas montanhas, mas também em busca de caçar etapas, vão estar Jack Haig, Torstein Træen e Kamil Gradek, além de Caruso, claro está. Ainda verdes nestas andanças, mas à procura de deixar a sua marca estarão os jovens Fran Miholjevic e Rainer Kepplinger.

Movistar

Por falar em alguém que precisa de dar uma resposta depois de um Tour negativo. Enric Mas deixou muito a desejar e saiu de França sem vitórias e muito longe do top 10. Aqui, na sua prova, top 10 não chega. Sem Ayuso na UAE, é a grande esperança espanhola para um bom lugar na geral e é-lhe pedido algo que já fez: o pódio. Não será nada fácil, até porque a equipa não será grande ajuda. Não é por ter pouca qualidade, mas sim porque o objetivo terá de ser etapas. A Movistar precisa de pontos e só os consegue através de triunfos, por isso vamos ver Pelayo Sánchez e Oier Lazkano (principalmente eles) muitas vezes na frente da corrida. Depois ainda há Nairo Quintana. O colombiano tem andado muito azarado nesta temporada de regresso, mas, memo assim, vai tentar brilhar na corrida que conquistou em 2016. Ao lado desta malta toda vai estar Nelson Oliveira, que, neste início em Portugal, vai celebrar a 21ª participação numa grande volta. Notável.

PUB

Red Bull–Bora–Hansgrohe

Tudo o que podia correr mal no Tour... correu mal, por isso o bloco alemão leva o arsenal inteiro para Espanha. Primoz Roglic é o líder e, por isso, o principal candidato a ganhar aquela que seria a sua 4ª Vuelta, mas a condição física levanta dúvidas. Como está o esloveno de depois da queda na Volta a França? A presença na partida em Portugal era uma dúvida, pelo que a sua forma na 3ª semana também levanta alguns pontos de interrogação. Mas se o esloveno não se aguentar das canetas, a Red Bull leva Daniel Martínez, 2º classificado na última edição do Giro, e Aleksandr Vlasov, que fez uma excelente temporada até ao Tour, onde tudo foi por água abaixo. Atenção ao jovem Lipowitz, é craque na montanha!

Decathlon–AG2R La Mondiale

Depois de uma Volta a França que não correu como desejava, a equipa francesa mete a carne toda no assador nesta Vuelta. Com Felix Gall, Ben O'Connor e Valentin Paret-Peintre, estão aqui três corredores que podem muito bem terminar dentro dos 10 primeiros e sonhar com algo mais. Mas pare esse "algo mais" terá de haver coordenação, de modo a colocar a equipa à frente do ego. O'Connor é o que aparece mais descansado depois do 4º lugar no Giro, onde fez uma excelente dupla com Paret-Peintre, que saiu de Itália com uma vitória. Poderá ser um excelente bloco na montanha e com objetivos de pódio.

Alpecin–Deceuninck

Tal como nas outras grandes voltas, esta formação vem com apenas um objetivo: ganhar etapas. Kaden Groves é dos poucos sprinteres de renome presentes nesta edição da Vuelta, pelo que tem a obrigação de fazer mais e melhor do que fez no Giro, onde não conseguiu vencer, apesar de 2 segundos lugares e 2 terceiros. O australiano de 25 anos é a grande esperança desta equipa que, de resto, deposita algumas esperanças em Quinten Hermans e Xandro Meurisse. Contudo, estes terão muitas dificuldades. Por isso... sem pressão, Kaden, sem pressão!

PUB

Arkéa–B&B Hotels

Uma vitória na Volta a França, por intermédio de Kévin Vauquelin logo na segunda etapa, fez a temporada desta equipa francesa, que vem à Vuelta descansadinha e com um alinhamento que não deixa sonhar muito alto, digamos assim. Nenhum dos corredores ganhou uma corrida esta temporada e o nome mais badalado, Élie Gesbert, regressou na semana passada à competição depois de 4 meses afastado devido a lesão. Apesar de tudo, é um nome a ter em conta no ataque às fugas, tal como Cristián Rodríguez e Michel Ries. No entanto, se tivesse de apostar, diria que a Arkéa vai sair de Espanha de mãos a abanar...

Astana Qazaqstan Team

Lorenzo Fortunato tem a oportunidade de liderar uma equipa numa Grande Volta, mas... vai ter de atuar praticamente sozinha. A Astana, que nestes últimos dois anos apostou tudo em fazer história com Mark Cavendish no Tour, não tem o mínimo de qualidade para apoiar um bom trepador como o italiano. O top 10 é um objetivo complicado para Fortunato, pelo que uma vitória de etapa já será muito bom. Harold Tejada é outro nome a ter em atenção, mas através de fugas em dias de montanha. Brussenskiy, Umba, Harold López, Vinokurov... Conhece algum? Só mesmo o Vinokurov... mas não é esse! Este é o filho do mítico Alexandre, diretor da equipa hoje em dia.

Cofidis

Bem, deixem-me ir buscar o texto que escrevi para o Guia do Tour. “Guillaume Martin é um corredor que praticamente nos esquecemos que existe, mas a verdade é que chega a uma grande volta e... fecha top 10.” Foi preciso isto para o francês ficar no 13º em França... Contudo, é muito provável que, com um pelotão significativamente mais fraco em relação ao Tour, Martin figure entre os 10 melhores da classificação geral, algo que já fez na Vuelta em 2021 (9º). Mas a Cofidis tem bastantes nomes que é preciso ter atenção no que toca à caça de etapas, desde logo Bryan Coquard, um dos melhores sprinters em prova e um candidato à classificação dos pontos. Jesús Herrada e Ion Izagirre vão tentar repetir triunfos nesta prova.

PUB

dsm–firmenich PostNL

Esta miudagem da dsm pode parecer inofensiva, mas podem muito bem fazer um brilharete nesta Volta a Espanha, principalmente com dois jovens - Max Poole e Pavel Bittner, ambos de 21 anos. O primeiro é britânico e acaba de ficar em 2º na Volta a Burgos, apenas atrás de Sepp Kuss, campeão em título da Vuelta. Defendeu-se bastante bem na montanha e no contrarrelógio e pode ser uma boa surpresa na grande volta que se avizinha. Já o checo, chega super motivado depois de duas vitórias em Burgos. Sim, o pelotão não era o mais rápido, mas o jovem sprinter bisou e em etapas que não eram totalmente planas. Ora, a coisa pode correr muito bem, mas também pode correr muito mal e não terem pernas para acompanhar a gente grande, mas uma coisa é certa: vão tentar.

EF Education–EasyPost

Apesar de não lutar pela classificação geral, Richard Carapaz fez um excelente Tour – andou de amarelo, ganhou uma etapa e a classificação da montanha –, por isso está aqui na Vuelta de consciência tranquila. Acredito que a abordagem seja idêntica, sem grandes preocupações com a geral. Se as tiver, é um nome série para o top 10, se não o fizer... também é. Pela forma atacante que tem de correr, pode muito bem conseguir uma boa classificação através de fugas. Por outro lado, Rigoberto Urán vai tentar despedir-se do ciclismo com uma vitória de etapa, algo que o português Rui Costa também ambiciona, apesar de ainda não pensar em deixar o pelotão! Dentro deste bloco, estou curioso para ver Darren Rafferty, craque irlandês de 21 anos que na temporada passada foi um dos melhores do Mundo no pelotão de sub-23.


Groupama–FDJ

Quando se lê o nome de David Gaudu na lista de participantes numa grande volta, pensamos logo que é um candidato ao top 10, mas a verdade é que a completa falta de pernas que mostrou na Volta a França deixa muitas dúvidas no ar. Tem apenas 27 anos e ainda pode recuperar, mas esta não está a ser a sua temporada e um top 10 numa Vuelta com um pelotão consideravelmente mais fraco do que o do Tour não chega. Tem de provar que continua a ser o líder da equipa ou então vai complicar muito a sua vida. Kung pode ser o salvador da equipa de ganhar o contrarrelógio inicial em Lisboa, porque de resto... esta Groupama é muito curta.

PUB

Ineos Grenadiers

Estou em condições de avançar que, de acordo com informações recolhidas por mim mesmo, Joshua Tarling vai ser o primeiro líder desta Volta a Espanha. O portentoso contrarrelogista britânico de 20 anos é o principal candidato à vitória na primeira etapa, o que seria uma estreia de sonho em grandes voltas. Mas ser apenas líder não é o objetivo da INEOS, que nos habituou a ganhar as principais corridas do Mundo. O líder é o mesmo da Volta a França – Carlos Rodríguez – e a meta é fazer melhor do que no Tour, quando o espanhol quebrou na última semana e terminou no 7º posto. Com 23 anos é dos principais candidatos à classificação juventude, mas se não estiver ao seu melhor, Arensman vai estar atento! Jhonatan Narváez está de volta depois do grande Giro que fez e vai tentar mais uma ou outra vitória antes de rumar à UAE Emirates.

Jayco–AlUla

Lembram-se daquele Eddie Dunbar que, no Giro de 2023, parecia o 'prime' Nairo Quintana? Pois, nunca mais apareceu! Veremos que versão do irlandês aparece nesta Volta a Espanha, porque o sucesso da equipa passa um pouco por ele. Para a geral há também Filipo Zana, 11º classificado na última Volta a Itália, mas... não chega. O foco deverá ser a conquista de etpaas através de fugas e, para isso, atenção a Mauro Schmidt. O campeão suíço tem estado bastante bem nas últimas provas que realizou - sagrou-se campeão suíço de fundo, ganhou a Volta à Eslováquia e foi 4º na Artic Race - e chega em excelente forma à Vuelta.

Intermarché–Wanty

Quem tem o ‘irritante’ (no bom sentido) Louis Meintjes, pode sempre ter a ambição de terminar no top 10 de uma grande volta, principalmente pela forma de correr do sul-africano. Só dá nas vistas porque está sempre na parte de trás do grupo dos favoritos. Quando não está lá, das duas, uma: ou está na fuga ou... o mundo está para acabar. Não é um bloco que entusiasme, mas nomes como Goossens, Simone Petilli, Lorenzo Rota e Rein Taaramäe dão garantias para serem competitivos em fugas nos dias de motanha. Daí para a frente, logo se verá, mas não será fácil.

PUB

Lidl–Trek

Ora aqui está a minha grande loucura para esta Vuelta. Skjelmose vai fazer uma grande volta apenas pela terceira vez, nunca fez melhor que um 29º lugar, mas eu acredito num autêntico brilharete deste talentosíssimo dinamarquês. Porque não? As montanhas da Volta a Espanha são feitas à sua medida e vejo-o a fazer uma grande prestação. O top 3, essa loucura que coloquei neste guia, é isso mesmo, uma loucura. Mas estaremos cá para ver. Tem à sua volta uma equipa experiente com nomes como Ciccone e Geoghegan Hart, mas tudo dependerá das pernas do jovem de 23 anos que terminou no top 4 de todas as provas por etapas em que participou este ano: 4º no Paris-Nice, 3º no País Basco e na Volta à Suíça. E tudo foi planeado para que estivesse no seu topo de forma aqui.

Soudal–Quick-Step

O Landismo está vivo e pode muito bem voltar ao seu lugar… o quarto da geral. Cumprido o objetivo de levar Remco Evenepoel ao pódio do Tour, Mikel Landa tem a oportunidade de voltar a liderar numa grande volta, mas veremos se isso não o afeta. Porquê? Ora, os melhores resultados do basco em provas de três semanas foram obtidos sempre a trabalhar para alguém - Aru, Froome e, agora, Remco. Ai a pressão… o bloco é bom, com James Knox, Louis Vervaeke e Mauri Vansevenant no apoio, mas não é tão forte como o de outras equipas. O top 5 é o objetivo e a forma do Tour deixa boas perspectivas.

Israel–Premier Tech

Há aqui nomes bem conhecidos, como Dylan Teuns, George Bennett ou Michael Woods, mas as minhas apostas... são os putos. Começo por Matthew Riccitello, norte-americano que foi dos trepadores que mais se aproximaram de João Almeida e Adam Yates na Volta a Suíça, corrida que terminou no 5º lugar. Jovem, bom trepador, mas fraco no contrarrelógio. Poderá lutar pela classificação da juventude. Depois há Corbin Strong, que recentemente se estreou a ganhar esta época e que tem várias etapas à sua imagem (finais com colinas curtas e inclinadas). Já Marco Frigo vai estar quilómetros, quilómetros e mais quilómetros em fugas.

PUB

Lotto–Dstny

Zero líderes, muita gente para ganhar etapas e com vários dias na mira. Por exemplo, Thomas de Gendt, segundo as contas do próprio, fará a 500ª etapa em grandes voltas e já disse que a quer ganhar. Sim, o belga de 37 anos vai fazer a 25ª prova de 3 semanas! Sepulveda vai atacar nas montanhas; Campenaerts tem os contrarrelógios na mira e gostava de repetir a gracinha do Tour, onde ganhou uma etapa, Kron e Moniquet são homens perigosos; mas a minha grande aposta é Van Eetvelt, jovem de23 anos que, devido a lesão, correu pouco este ano, mas brilhou em todo o lado. Ganhou o UAE Tour no início da época e, no passado sábado, foi 3º na Clássica de San Sebastian. É craque!

Euskaltel–Euskadi

É impossível olhar para este equipamento laranja e não recordar aqueles tempos míticos em que esta era das equipas mais fortes do pelotão. Apesar de estar noutra equipa, um dos poucos corredores que deste pelotão que viveu esses tempos foi Luis Ángel Maté, experiente trepador de 40 anos que recentemente conquistou a classificação da montanha... na Volta a Portugal. É pouco provável que se apresente ao mesmo nível, até pela diferença de categoria, mas Maté, que está na sua última época, quer despedir-se com uma gracinha. Contudo, as aspirações bascas estão principalmente depositadas em Jon Aberasturi, Mikel Bizkarra e Txomin Juaristi, que vão estar muitas vezes na fuga.

Kern Pharma

Uma Vuelta positiva para esta equipa vai ser colocar homens na fuga em praticamente todas as etapas, porque qualquer ambição a partir daí já será demasiado alta. Vão querer mostrar os jovens da equipa e Pablo Castrillo, de 23 anos, poderá ser dos mais ativos. Foi 7º na Volta a Burgos, 5º na Eslovénia, 7º nos nacionais de Espanha... resultados consistentes que o poderão catapultar para outro patamar. Mas isso também dependerá do que fará nesta prova. Por outro lado, temos José Félix Parra, corredor de 27 anos que recentemente esteve na Volta a Portugal, terminando no 17º posto.

PUB

No Tour até acertámos nos dois primeiros da tabela e em seis do top-10, por isso para a Vuelta voltamos a arriscar lançar as nossas previsões. E desta feita fazendo figas que dê mesmo certo. Pelo menos no que ao primeiro lugar diz respeito. Dentro de três semanas saberemos se acertamos ou não...

PUB

João Almeida brilhou no Tour, Iúri Leitão e Rui Oliveira vestiram-se de ouro na pista nos Jogos Olímpicos e, quem sabe, não teremos agora um português a vencer uma grande volta pela primeira vez na história - o melhor resultado de sempre foi de Joaquim Agostinho, com um 2.º lugar em 1974. Sonhar não custa e a verdade é que João Almeida parece chegar à Vuelta mais candidato do que nunca a ganhar.  

O ‘Bota Lume’ vai começar por dividir a liderança da UAE Team Emirates com Adan Yates, como quem participou tanto no Tour como na Volta à Suíça. Se em França foi João Almeida a sair por cima (4.º na geral contra 6.º), em terras helvéticas foi o britânico a sorrir, conquistando a prova precisamente à frente do português.  

Os restantes portugueses no pelotão serão os experientíssimos Nélson Oliveira e Rui Costa. O ciclista da Movistar, de 35 anos, vai iniciar a 21.ª grande volta, isto depois de há poucas semanas ter feito 7.º no contrarrelógio dos Jogos Olímpicos. A expectativa é que possa ser um dos destaques logo no arranque da Vuelta, que se inicia com um contrarrelógio individual entre Lisboa e Oeiras.  

Já Rui Costa vai para a 18.ª grande volta e com a missão de repetir o que fez na edição do ano passado da prova, onde venceu a 15.ª etapa. Esteve no Tour e tentou fazer das suas, mas talvez seja nas estradas espanholas (ou nas portuguesas) que volta a levantar os braços numa das principais provas da época.



A Volta a Espanha é a terceira e última prova de três semanas do calendário mundial, disputando-se entre agosto e setembro, depois do Giro e Tour, mas nem sempre foi assim. Entre 1935, ano da sua criação, até 1994, a corrida do país vizinho desenrolava-se entre abril e maio, sendo que em 2020, por causa da pandemia, teve lugar entre outubro e novembro.

Tudo começou em 1935, quando o ciclista/jornalista Clemente López Dóriga, em colaboração com Juan Pujol, diretor do diário ‘Informaciones’ decide criar a Volta a Espanha, 32 anos depois do surgimento da Volta a França e 38 também já com a Volta a Itália na estrada. A primeira edição teve 14 etapas, num total a rondar os 3.400 quilómetros - sendo que quatro tiradas superaram os 250 (!) quilómetros. E o primeiro campeão não foi um ciclista da casa, mas sim o belga Gustaaf Deloor, a terminar com 12 minutos para o espanhol Mariano Cañardo.

Deloor revalidaria o título no ano seguinte, antes da prova sofrer uma paragem devido à Guerra Civil espanhola, e também pela Segunda Guerra Mundial, para regressar em 1941, quase sem participação estrangeira. Foi então que se assistiu ao primeiro triunfo espanhol por Julián Berrendero, que venceria também em 1942.

Gustaaf Deloor venceu as duas primeiras edições da prova

Com a Segunda Guerra Mundial a arrastar-se no tempo, e com isso a crise económica, a Vuelta voltou a sofrer uma paragem, para depois ser retomada em 1945. Realizou-se até 1950, teria quatro anos de ausência, antes de se firmar como presença habitual no calendário a partir de 1955.

Na década de 60, o prestígio da prova ganha revelo, com as grandes estrelas do Giro e do Tour a marcarem presença e a inscreveram o nome no palmarés: Jacques Anquetil (1963), Raymond Poulidor (1964), mais tarde Eddy Merck (1973), Bernard Hinault (1978), que rivalizam com as estrelas locais, como Federico Bahamontes (foi 2.º em 1957) e Luis Ocaña (1970).

Nos anos 60, o então organizador da prova, o 'El Correo Español/El Pueblo Vasco', passava por grandes dificuldades financeiras que voltaram a colocar em risco a corrida. Mas ela foi realizando-se e nem mesmo um atentado terrorista em 1968 e outras manifestações conseguiram neutralizar a prova - ainda que tenha havido uma etapa anulada devido a estes acontecimentos.

O início da década de 90 ficou marcado pela era Tony Rominger. O suíço venceu três edições seguidas (1992 a 1994), sendo que nos primórdios da década de 2000 as vitórias foram caseiras, com Roberto Heras a vencer por quatro vezes. Até que entra em ação Alberto Contador, até hoje um ciclista que deixou saudades pela sua forma de correr: um ciclista de ataque, inconformado, um trepador de excelência.

Depois, eis que se chega o domínio de Primoz Roglic (tricampeão de 2019 a 2021), para em 2022 o título ser conseguido por Remco Evenepoel, o primeiro belga campeão após Eddy Merckx. Em 2023, num pódio histórico, a Jumbo-Visma deu conta dos três primeiros lugares, com o gregário de luxo Sepp Kuss a conseguir (a muito custo perante a relutância dos seus colegas) bateram Jonas Vingegaard e Primoz Roglic.

Roberto Heras é o recordista de vitórias, com 4

Lisboa fez história

Em 79 edições da Volta a Espanha (incluindo a de 2024), a prova começou no estrangeiro por cinco vezes. E a primeira, em 1997, foi em Portugal, mais concretamente na região de Lisboa com três etapas: a primeira entre Lisboa e o Estoril (autódromo); a segunda a ligar Évora a Vilamoura e a terceira com início em Loulé e final já em Espanha, em Huelva. Na liderança saiu de Portugal o dinamarquês Lars Michaelsen (Farm Frites), sendo que esta edição foi ganha pelo suíço Alex Zulle (ONCE).

Repete-se, por isso, o cenário deste ano, com nova partida de Lisboa e uma vez mais com três etapas, mas com um percurso bem distinto - em vez de ir para Sul, o pelotão ruma a Norte.

Além de Portugal, a Vuelta teve o seu início em Assen (Holanda) em 2009, em Nimes (França) em 2017 e mais recentemente regressaria à Holanda, mas a Utrecht (2022).

PUB

PUB

Para os amantes portugueses de ciclismo e para os próprios corredores, a Vuelta nunca despertou tantas atenções e emoções como o Tour e, mais recentemente, o Giro, este por ‘culpa’ de João Almeida. No entanto, ao longo das 78 edições da corrida espanhola, 33 ciclistas nacionais marcaram presença e terminaram por 10 vezes entre os 10 primeiros da classificação geral final.

O último a consegui-lo foi João Almeida, no ano passado e há dois anos, com um 5.º e um 9.º posto finais. Mas o melhor registo de um português pertence a Joaquim Agostinho, com o 2.º lugar na edição de 1974. Nessa corrida, o malogrado corredor de Torres Vedras perdeu o título para o espanhol José Manuel Fuente por apenas… 11 segundos. A corrida decidiu-se apenas no contrarrelógio final, Agostinho, que tinha ganho já duas etapas, foi arrasador e chegou a ser declarado vencedor, só que os comissários acabaram por dar a vitória ao espanhol, por considerarem que a contagem dos tempos tinha sido mal feita. Uma decisão polémica que, na altura, deixou muitas suspeitas. Agostinho ainda participou por mais 4 vezes na Vuelta. Na sua estreia, em 1972, abandonou, mas nas restantes presenças concluiu 6.º, 7.º e 15.º.

Joaquim Agostinho deu ao nosso país o melhor resultado de sempre

Antes de Agostinho, em 1957, José Manuel Ribeiro da Silva ficou às portas do pódio. O jovem ciclista, de 22 anos, foi o 4.º e parecia destinado a grandes vitórias, pois no mesmo ano ganhou a Volta a Portugal pela 2.ª vez e havia terminado o Tour em 25.º. No entanto, um acidente de viação em abril de 1958 tirou a vida ao corredor do Lordelo e ao ciclismo nacional um dos seus expoentes máximos - potencialmente o maior, atendendo à sua idade.

Mas o primeiro português a brilhar na Vuelta foi João Rebelo, em 1945, ano que marca a estreia nacional na prova espanhola. Então ao serviço da equipa Iluminante, Rebelo averbou duas vitórias em etapas, terminou em 6.º na classificação geral e foi 2.º na montanha, a apenas 1 ponto do 1.º. E, no ano seguinte, já com a camisola do Sporting, alcançaria a 10.ª posição, numa edição em que João Lourenço, também ao serviço da equipa leonina, somaria também um triunfo numa etapa.

O ano de 1975 contou com o maior número de portugueses no pelotão da Vuelta - iniciaram 18  e 12 chegaram ao fim - e teve excelentes resultados globais, com 2 ciclistas nos 10 primeiros (Fernando Mendes em 6.º e José Freitas Martins em 8.º) e mais 3 no top-20.

No início deste século, a equipa Maia-Milaneza-MSS destacou-se. Em 2001, terminou no 6.º lugar coletivo e levou o dinamarquês Claus Moller a uma vitória de etapa e à 8.ª posição final. Em 2002, a já extinta formação conseguiu o 3.º lugar por equipas, Moller foi 12.º, o suíço Fabian Jeker 13.º Rui Sousa 16.º, naquela que era a melhor classificação desde Orlando Rodrigues (14.º em 1995). Mais tarde, Sérgio Paulinho foi também 16.º em 2006, edição na qual ganhou uma etapa. Na altura, fê-lo 30 anos depois de Agostinho ter dado a última vitória às cores nacionais.

Mais recentemente, Nelson Oliveira, em 2015, venceu a 13.ª etapa e deu ao ciclismo luso o 10.º triunfo em tiradas na corrida espanhola. Três foram conquistadas por Agostinho, o único luso que envergou a camisola de líder (na altura era ainda amarela), em 1976. João Rebelo ganhou duas, enquanto João Lourenço, José Sousa Cardoso, Alves Barbosa e Sérgio Paulinho ergueram os braços na meta uma vez cada. 

Apesar de ainda ser o país dominador claro no número de vitórias finais (31), Espanha vai já num jejum de nove anos sem ver um ciclista nacional a conseguir vencer a sua prova principal. E muito provavelmente... assim se manterá. Alberto Contador, que é um dos três ciclistas que venceu a prova por três vezes (Tony Rominger e Primoz Roglic são os outros dois) foi o último da casa a triunfar, quando em 2014 ergueu mais alto os braços no final em Madrid.

Desde então, Itália, Colômbia, Grã-Bretanha, Eslovénia, Bélgica e Estados Unidos celebraram, com especial destaque para o já citado Roglic, que venceu entre 2019 e 2021. Este ano, o agora ciclista da Red Bull-Bora está de volta às estradas espanholas e vai tentar igualar Roberto Heras como recordista de triunfos, mas resta saber se terá pernas para se bater com a juventude que tem despontado, mas também com o seu ex-colega de equipa Sepp Kuss.

PUB

Textos e recolha de dados José Miguel Machado, Marques dos Santos e Pedro Filipe Pinto
Fotografia Getty Images e Reuters | Edição Fábio Lima | Webdesign David Vinagre

Deixe o seu comentário
PUB
PUB
PUB
PUB
Ultimas de Vuelta Notícias
Notícias Mais Vistas
PUB