A Intercultura-AFS Portugal realizou esta quinta-feira a Mesa Redonda "Pedalar pela Inclusão", no âmbito da Volta ao Mundo de Jimmy Pelletier, para promover a igualdade, diversidade e inclusão no desporto. O evento decorreu nas instalações da Direção Regional de Lisboa e Vale do Tejo do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) e teve o objetivo ensinar mais sobre este tema, contando com a presença de atletas paralímpicos, como o próprio Jimmy Pelletier e Pedro e Miguel Pinto (IRON Brothers), porque, tal como Teresa Fragoso, Diretora Nacional de Intercultura-AFS Portugal frisou, "para falarmos sobre a inclusão e diversidade no desporto, temos de ouvir as histórias de quem as vive".
A história de Jimmy é um dos melhores exemplos para ilustrar a superação. O canadiano ficou paraplégico aos 19 anos na sequência de um trágico acidente de carro, mas não se deixou abalar e decidiu se tornar um atleta paralímpico. "No início, foi difícil para mim. Mesmo antes do meu acidente, era uma pessoa extremamente desportiva. Era jogador de hóquei no gelo. Foi difícil, mas adaptei-me rapidamente à minha condição, o que também me levou a aceitar a minha deficiência", confessou Jimmy, que nos anos seguintes à sua vida mudar drasticamente foi alcançando grandes feitos no desporto.
Aos 49 anos, já competiu nos Jogos Paralímpicos de Turim em 2006, integrou a equipa canadiense de handcycling, tornou-se a segunda pessoa no mundo a subir o Monte Kilimanjaro com uma handbike de montanha e atravessou o Canadá de handbike (7,200 km em 65 dias). Atualmente está a fazer uma Volta ao Mundo com o objetivo de passar por 27 países, em cinco continentes, percorrendo 40 000 km em 24 meses. Começou em junho no Canadá e acabou agora a 3.ª etapa em Lisboa, participando no evento antes de rumar à Austrália para a próxima fase. "Não é um projeto fácil, é um grande desafio", admitiu o atleta que vê iniciativa como uma prova que "tudo é possível".
Apesar da história de Jimmy ter inspirado a Mesa Redonda, o evento não se focou somente no canadiano, foi também possível ouvir a experiência de outros atletas paralímpicos, como Pedro e Miguel Pinto, mais conhecidos por IRON Brothers. Pedro tem paralisia cerebral, mas com a ajuda de Miguel, tem participado em vários Ironman, maratonas e provas de triatlo. Mas o percurso no desporto não tem sido fácil para os irmãos, que partilharam as dificuldades que enfrentam em tentar participar nas competições.
"Há uma grande hipocrisia em relação à inclusão, fala-se muito sobre o tema, mas as pessoas com deficiência são as menos incluídas", afirmou Miguel que revelou que este ano a dupla não participou em nenhuma competição porque não lhes foi dada autorização. Quando questionado sobre o porquê, as razões eram diversas: ou porque não aceitavam participantes de cadeiras de rodas, ou por uma parte do percurso ser perigosa ou porque não sabiam se podiam fornecer as condições de segurança necessárias - ao que Miguel argumenta: "Se for isso, então não é um problema para nós porque temos tanta segurança como todos os outros".
O atleta reforça que a importância é incluir as pessoas com deficiência para que participem como todos os outros, não mudar as regras para as encaixar: "Não quero regras especiais, não quero tempo adicional. Se não acabar a prova a tempo, sou desqualificado como os outros". A ideia foi partilhada por David Grachat que foi nadador durante muitos anos, tendo participado em quatro edições dos Jogos Paralímpicos: Pequim'2008, Londres'2012, Rio'2016 eTóquio'2020. Atualmente trabalha no Gabinete de Secretaria de Estado do Desporto e luta por uma maior acessibilidade no desporto e para ajudar as gerações mais novas que desejam praticar desporto paralímpico mas não têm os meios para conseguir concretizar esse sonho. David acrescenta também o desejo de querer tornar os Jogos Olímpicos e os Paralímpicos, num só "para serem só os Jogos" em que todos podem competir.
O antigo nadador reconheceu a importância da família na sua jornada e como lhe passaram os valores e determinação para se tornar um atleta paralímpico, juntando-se ao argumento de outros membros do painel que reforçaram a necessidade de informar as famílias sobre o tema da inclusão, como Ana Barradas - da Direção da APACS (Associação de Paralisia Cerebral de Almada Seixal) - que acredita ser preciso "incentivar e transmitir a cultura desportiva às famílias".
Contudo, Ana acredita que o verdadeiro desafio está em tornar a teoria em prática e de colaborarmos uns com os outros: "Já se faz muito, a legislação é clara, mas é muito importante passarmos da teoria à prática. Agregarmos, cooperarmos e colaborarmos uns com os outros. No fundo é esse o grande desafio", afirmou Ana que mencionou ainda a importância de sensibilizar para o desporto adaptado e de criar soluções para os problemas ou entraves que as pessoas podem sentir no ensino relativamente o assunto: "É esse caminho que temos talhado na associação. Ouvir muito, tentar, às vezes acertar, muitas vezes errar mas não ter medo de ir ouvindo e fazendo. Nós temos que ir tentando, aplicar projetos e aprender com os erros. Só quem não tenta é que erra".
Para os ativistas, a escola é outro pilar vital para promover a inclusão no desporto. "A educação é o elevador social para todos nós. Ensinar sobre estes temas desde cedo, faz com que as crianças cresçam com estes valores", declarou Sandra Monteiro, a Diretora Regional de Lisboa e Vale do Tejo do IPDJ. Já Alexandra Frias, embaixadora do Plano Nacional de Ética no Desporto, acrescentou que "a escola também tem de ser um transformador social" e a formação de professores sobre o assunto, é um passo na direção certa.
No final, Ana Barradas deixou um apelo e um desejo para o futuro: "Um dia a vida vai ser assim, não olhamos para as diferenças dos outros, mas sim para as potencialidades de cada um".
Por Camila Soeiro