As dúvidas quanto à real aposta e competitividade da Kiprun já tinham ficado desfeitas quando testámos as KD900X LD, mas era importante perceber se o mesmo se aplicava ao modelo mais abaixo na hierarquia, o KD900.2. Como o nome indica, tratam-se de umas sapatilhas que são uma segunda evolução deste daily trainer rápido da marca francesa e, de uma forma geral e sucinta, a resposta é "sim".
O primeiro aspeto positivo é o visual, que é logo aquilo que chama à atenção num momento inicial. Ainda assim, a verdade é que aqui também engana, pois quem for menos conhecedor da marca pensará que se trata de um 'racer'. As linhas e a construção são efetivamente agressivas, tal como a sensação de leveza, com apenas 220 gramas, e o menor conhecedor pensará que leva um 'super shoe' ou um 'super trainer'. Não são uma coisa nem outra, mas são provavelmente um dos modelos mais interessantes do ponto de vista da relação preço/qualidade.
À venda por apenas 130 euros, colocam-se abaixo de qualquer daily trainer rápido que surge no mercado, por exemplo 30 euros abaixo das Deviate Nitro 3 da Puma, que no nosso entender são aquelas que apresentam a melhor relação nesse particular. As Kiprun perdem nesse combate, mas não ficam nada atrás dos demais modelos.
Aqui a grande diferença acaba por ser o facto das Kiprun KD900.2 não terem placa de fibra de carbono. Ainda assim, a ausência de placa não compromete em nada a capacidade de resposta, pois a espuma VFOAM PLUS é capaz de dar esse bom retorno de energia, sem necessitar da ação da placa - que, como na maior parte dos casos, só funcionaria como 'estabilizador'. Aqui sente-se que falta um nadinha de estabilidade, não tanto pela ausência de placa, mas antes pelo calcanhar, que não oferece grande tipo de suporte na zona mais central. Isso faz com que eventuais viragens mais bruscas possam requerer um cuidado adicional.
Como também é preciso ter um pouco de cuidado com o tipo de treino em que as utilizamos. Apesar de serem um daily trainer, a espuma de meia sola não convida a treinos muito longos, sendo por isso mais indicadas a fazer um trabalho rápido e curto. Entendemos que é nesse tipo de treinos que melhor respondem, já que a espuma (uma combinação de EVA com PEBAX) consegue devolver energia de forma eficiente. Com o passar dos quilómetros, onde para lá do retorno vamos também precisar de amortecimento, consideramos que a sua utilização pode não ser tão prazerosa.
Outro ponto a ter em conta é o tamanho. Tal como nos tinha acontecido com as KD900X LD, estas KD900.2 não têm um registo alinhado com as demais marcas. Dando um exemplo claro: normalmente pedimos um 42 ou 42,5 e aqui nestes dois modelos, para ter um feeling mais ou menos similar, tivemos de ir ao 41. O ideal, nestes casos, é passar na Decathlon mais próxima e experimentar para ter certezas.
De resto, só temos pontos positivos a anotar, desde o upper (com uma construção de aspeto durável e bem finalizado), até à sola, que nos aparenta ter uma durabilidade para durar umas boas centenas de quilómetros. Durável e até com boa tração, o que se agradece especialmente agora quando chegam as primeiras chuvadas do ano.
Em suma, pelo preço a que colocou este modelo no mercado, a Kiprun volta a mexer um mercado com umas sapatilhas bem apetrechadas e capazes de responder de forma satisfatória. O preço reduzido não esconde, ainda assim, as pequenas debilidades, nomeadamente a falta de amortecimento e segurança global para aventuras mais longas. E, depois, por mais 30 euros é possível chegar a um Deviate Nitro 3 da Puma que consegue entregar tudo... em muito melhor.