Mónica Jorge, diretora para o futebol feminino da FPF, esteve à conversa com Record logo após a apresentação da VISA como nova patrocinadora da Liga BPI, num evento na Cidade do Futebol, abordando vários temas da atualidade. Um deles foi a tão falada entrada do FC Porto na modalidade, depois de Benfica, Sporting e Sp. Braga se terem juntado ao longo dos últimos anos. No cargo desde 2012, a dirigente fez diversas vezes o 'desafio' aos principais clubes portugueses para criarem equipas femininas. Neste momento, faltam apenas os azuis e brancos...
"O FC Porto já tem camadas jovens, mas penso que provavelmente já está a trabalhar para brevemente ter uma equipa feminina sénior. Mais tarde ou mais cedo isso deverá acontecer, não tenho a menor dúvida", começou por referir. Mas será isso o que resta para o futebol feminino ter um 'boom' ainda maior? "Ajudava a ter um pouco mais de entusiasmo, de acompanhamento e muitos mais adeptos se o FC Porto se juntasse a nós, mas acho que não podemos estar só a focar-nos nisso, porque o que a federação quer é que todos os clubes em Portugal tenham portas abertas a todas as crianças de qualquer distrito. Mas, como é óbvio, quanto mais clubes com maior dimensão se juntarem a nós, como é o caso do FC Porto, melhor ainda. Do ponto de vista do adepto e da promoção seria fantástico", frisou.
A diretora destacou também as assistências cada vez mais elevadas nos estádios portugueses e o aumento do número de praticantes no nosso país como pontos positivos. "A Liga tem tido um impacto bastante forte na proximidade do adepto, mas a Liga BPI já tem um adepto muito especifico, que é a família. Vemos muitas famílias a ir aos estádios para verem as suas equipas, vem a família toda ao futebol. O que é bom e significa que o futebol feminino têm este lado muito bom, de ligação com a família e o adepto", afirmou, sublinhando que o ambiente é mais saudável do que no masculino.
"No futuro não sei se será assim, mas neste momento sim. Dá-nos segurança e tranquilidade ir assistir um jogo de futebol feminino, praticado pelas mulheres, que as pessoas já perceberam perfeitamente que é um jogo diferente. Dá-lhes mais prazer assistir ao futebol feminino. Como é óbvio os clubes de maior dimensão também ajudam, porque se os jogos não fossem competitivos e não tivessem brio, provavelmente o adepto não estava no estádio. Se o adepto vai ao estádio ver, significa que o caminho, o estilo de jogo e a qualidade é boa para assistir e passar uma boa tarde de futebol", atirou.
O número de jogadoras no futebol e no futsal registou um aumento de 132% entre 2012/13 e 2022/23, de acordo com um estudo recente da FPF, e na visão de Mónica Jorge, o 'segredo' é continuar a investir na base: "Já passámos a barreira das 17 mil praticantes neste período, mas comparativamente a nível internacional, ainda temos de crescer muito mais. Quando houver maior sustentabilidade na base, vamos ter mais qualidade, mais opções de futuro de mulheres em diferentes áreas. Não falamos só de jogadoras, mas da mulher no processo. Tudo isto ainda é um processo em que temos de trabalhar e insistir. Provavelmente daqui a 10 anos vamos ter os números que ambicionamos no nosso projeto 2030, que é chegar às 70 mil praticantes. É um desafio bastante grande, mas acreditamos que é possível."
Apuramento para torneios de seleções e mais equipas na Champions
Como se sabe, o futebol feminino português tem crescido a olhos vistos. Mónica Jorge destacou como meta o apuramento para todos os torneios de seleções e considera excelente o aumento do número de equipas na Liga dos Campeões [duas em 2024/25 e três em 2025/26]. "Não podemos ambicionar outra coisa que não nos qualificarmos para fases finais. A Seleção trabalha sempre para patamares de excelência, assim como os clubes também estão a trabalhar e bem, como se viu agora na Liga dos Campeões. A federação tem a responsabilidade de chegar aos mais altos patamares e estar entre as 10 melhores seleções europeias", lembrou.
"O aumento de equipas na Champions vai ser um fator decisivo e também muito ambicioso. O facto de existirem mais hipóteses e metermos mais equipas na Liga dos Campeões será um fator de melhoria, de crescimento e de responsabilidade para os clubes, mas também para a FPF, que terá de continuar a trabalhar todas as semanas para que estes clubes possam ter as melhores condições e a maior sustentabilidade para que possam chegar aos três primeiros lugares e depois poderem mostrar um bocadinho do nosso 'perfume' lá fora", finalizou.
Por Francisco Guerra