Sem espaço para o erro, impossibilitado de desperdiçar sequer “meio ponto” e diante de um adversário que até já lhe tinha causado fortes danos esta temporada, o FCPorto cumpriu 90 minutos a roçar a perfeição e demonstrou de forma inequívoca que tem argumentos para poder aspirar ao título. Quem quer ser campeão tem, um dia, de ser capaz de demonstrá-lo. O que os dragões vinham fazendo nesta Liga, até agora, deixava muitas dúvidas.
Consulte o direto do encontro.
Estava a faltar tudo aquilo que aconteceu neste clássico. Um FCPorto soberbo a partir do momento em que foi capaz de tomar conta do jogo, já muito perto dos 15 minutos. Controlo absoluto das operações através da qualidade do coletivo, mas também muito por obra e graça de um Herrera omnipresente e decisivo na (boa) gestão em que os dragões navegaram.
Dragão a “voar”
Carrillo pressionou Alex Sandro duas vezes ainda na fase inicial do jogo e à segunda tentativa saiu-se bem. Recuperou a bola em zona alta e serviu Montero, que recebeu já perto da grande área sem ninguém a estorvar. Só que o colombiano foi ingénuo e passivo na abordagem do lance e tudo acabou sem qualquer perigo para Fabiano. Estávamos ainda nos segundos iniciais do clássico e, por incrível que pareça, não mais o Sporting foi capaz de ameaçar a baliza dos dragões. O 4x3x3 de Marco Silva foi o mesmo de sempre, a velocidade é que era outra. Toda a gente a precisar de mais tempo para pensar, para decidir e para executar. Era inevitável o “efeito Wolfsburgo”. O resultado só podia ser o que foi porque do outro lado aconteceu exatamente o contrário. Um FC Porto “saudável” a “levantar voo” e a levar o jogo para um plano de intensidade que o Sporting não poderia acompanhar. Nos duelos individuais, aliás, a desvantagem dos leões chegou a ser escandalosa: se Danilo e Alex Sandro “engoliram” Nani e Carrillo na luta pelos corredores laterais, no meio o desequilíbrio foi ainda mais evidente. Adrien e João Mário, que nem tinham entrado mal no jogo, desapareceram assim que o FC Porto retificou coordenadas no meio-campo.
Tello, a seta
O erro tem sido uma constante na temporada do Sporting, mas nunca as falhas tinham sido tantas como desta vez. A quantidade de “erros não-forçados” atingiu valores preocupantes no Dragão. E falharam quase todos: de Tobias a Adrien, de Cédric a Carrillo. Sem pretender tirar mérito a quem construiu de forma direta os três golos, também é importante reconhecer a ingenuidade de Jonathan Silva: demasiado afastado do central do seu lado (Tobias), o lateral argentino permitiu sempre que a bola entrasse nesse espaço e que o extremo, nas suas costas, pudesse facilmente fazer aquelas três diagonais. Perder o contacto visual com um velocista como Tello é meio caminho andado para o desastre. Jonathan mediu mal o perigo e pagou caro por isso.
Sem soluções
Quando sofreu o segundo golo (minuto 58), Marco Silva, mesmo consciente de que estava perante uma missão praticamente impossível, ainda foi à procura de uma reação que pudesse devolver o leão ao clássico. Fez a sua habitual dupla substituição, desta vez para lançar no jogo Capel e Slimani (aos 61’). Saíram Adrien e Montero e, aparentemente, o leão ganharia assim “corpo ofensivo” tendo ainda em campo Nani, Carrillo e João Mário. Puro engano. O problema estava mais atrás. O FCPorto sentia que a diferença de andamento era maior do que nunca. Bastava uma aceleração, um desequilíbrio em 1x1 e a bola estava nas imediações da baliza de Rui Patrício. Com Quaresma endiabrado (excelente entrada!), o 3-0 era apenas uma questão de tempo. Resultado largo mas inteiramente justificado por uma equipa que “disse” estar pronta para lutar pelo título. O “Sporting candidato” passou à história.
O homem do jogo: Tello
Foi para momentos destes que o FC Porto apostou forte no empréstimo de Tello. Velocidade supersónica, sangue-frio na cara do guarda-redes e comprometimento total. Um craque!
Árbitro: Artur Soares Dias
Levou longe de mais a decisão de poupar Casemiro ao amarelo. Chegou a ser incompreensível, aliás. Também errou na ação disciplinar quando poupou igualmente Cédric ao vermelho, já muito perto do final do jogo.
NOTA TÉCNICA
Julen Lopetegui (5)
Chamou Evandro à titularidade por ter o perfil mais idêntico a Óliver e ganhou a aposta em toda a linha. Equipa sempre bem posicionada, pressionante e com brilhantismo ofensivo em muitos momentos do clássico
Marco Silva (2)
A equipa fez uma “maratona em alta velocidade” frente ao Wolfsburgo e pagou ontem isso na pele. Incapaz de dividir o jogo a partir dos 15 minutos, o treinador nunca teve soluções para contrariar a superioridade do FC Porto