Os poucos adeptos do Benfica que não desistiram de ir aos jogos no Estádio Nacional respiraram de alívio quando Simão atirou com facilidade para a baliza do encoberto (por Sokota) Paulo Jorge. Estava feito o 2-1 que garantiu os dois pontos e já ninguém queria saber de mais nada senão no novo estádio: é que esta equipa precisa de uma nova luz...
Se calhar, não bastará uma simples luzinha. Por exemplo, o meio-campo mostrou estar necessitado de um farol, alguém que possa iluminar à sua volta e aclarar os buracos que, inevitavelmente, as defesas contrárias acabam por abrir quando se consegue atacar de forma continuada, como conseguiu durante vários períodos o Benfica, com destaque para o início da segunda parte.
Camacho começou por dispor os alas (Simão e - surpresa - Alex) bem abertos, mas a intenção não resultou porque o Gil Vicente, muito compacto, conseguiu sempre manter os extremos (quase) sempre desligados do resto do corpo.
Para agravar o panorama, a equipa de Mário Reis susteve sempre o Benfica em sentido, mercê de trocas de bola rápidas e em progressão nas (não muitas) vezes em que conseguiu recuperar o esférico. O problema do Gil foi o desgaste físico a que se obrigou ao entregar - tal como em Alvalade - o jogo ao... grande.
Acaso
A impaciência começou a tomar conta do Benfica. Dentro e fora do campo. Duas ou três iniciativas mal sucedidas de Alex provocaram mesmo manifestações de desagrado nas bancadas. Ele que viria a revelar-se decisivo (e, por isso, aplaudido na substituição)...
Manietado por uma oposição enervante, o Benfica começou a desorientar-se e a orientar-se para o passe comprido, dando vantagem a quem defendia. Foi (literalmente) por acaso que Sokota pôs o Benfica em vantagem. Mas nem por isso a equipa sossegou e melhorou de produção.
Mário Reis foi lesto a responder e, prescindindo de Ivo (já amarelado e inapto para travar as rápidas investidas de Simão), lançou Braima no miolo. Teve sorte. Pouco depois alcançou o empate, numa das formas mais irritantes para um treinador: cruzamento rasteiro e antecipação do ponta-de-lança ao central. O espectro azul (de Belenenses; lembram-se do 3-3?) voltou a pairar no Jamor e cada toque dos encarnados na bola era como um grito a pedir o intervalo.
Pouca coisa funcionava no Benfica, mas a inoperância da dupla Sokota-Nuno Gomes (sobretudo deste, ainda pouco entrosado) era... gritante.
Rompante...
Efectivamente, o intervalo fez bem aos encarnados. Fazendo apertar os extremos quase para as costas dos pontas-de-lança, Camacho conseguir abrir espaço para os laterais, que tinham passado a primeira parte completamente a leste das manobras ofensivas.
A diferença notou-se logo e traduziu-se, em primeira instância, numa sucessão de cantos e, claro, obrigou o Gil Vicente a despachar a bola sem olhar à forma como o fazia. Isto é, deixou de haver tempo para preparar os contra-ataques. Além disso, como os médios do Benfica também subiram, os alívios da defesa gilista começaram a tornar-se o início de mais um ataque encarnado.
Alívio
Mas verdadeiro alívio foi aquilo que se sentiu em praticamente todo o estádio quando Simão fez o segundo golo do Benfica. Foi um alívio porque, apesar de melhoria notória de produção, não havia qualquer indicação segura de que a equipa seria capaz de vencer a oposição tenaz do Gil Vicente. Porquê? Porque faltava um pensador. Petit teve um desempenho bastante positivo, mas não chegou para ser o homem que fazia falta na segunda linha de ataque, o tal farol de que falamos no início.
Caberia provavelmente e Tiago fazer este papel, mas nunca assumiu a batuta, deixando outra vez um espaço sem dono à frente da defesa do Gil Vicente.
O problema maior da falta de preenchimento dessa vaga na equipa (o maestro) foi o facto de haver outros a considerarem ser sua obrigação preenchê-lo. Foi o que aconteceu muitas vezes com Nuno Gomes, que recuou vezes demais, diminuindo a agressividade na área, aumentando a desvantagem numérica. Até Argel chamou a si as dores da "ferida", o que só contribuiu para Mário Reis alimentar a esperança de repor a igualdade.
Em vão. Quando o técnico gilista decidiu apostar em Fábio Januário (prescindindo do lateral Ferreira I), Camacho respondeu com uma dupla cartada, refrescando a linha da frente com Geovanni e Roger. O esquerdino foi o que melhor cumpriu a missão de não permitir ao Gil Vicente ganhar ascendente, segurando bem a bola e partindo com objectividade para a área de Paulo Jorge, agora mais desguarnecida e menos capaz de tranquilizar o resto da equipa.
A falta de vigor inviabilizou uma reacção consistente do Gil Vicente na ponta final. Mário Reis, já na fase de desespero, ainda prescindiu de mais um defesa (ah, valente!) para jogar o incontornável Paulo Alves, mas o goleador nem teve oportunidade de tocar na bola. Pela quarta vez, o Gil Vicente ficou sem pontuar. Pela margem mínima fará questão de notar o treinador, mas a verdade é que os pontos não entram em caixa. Será impotência real ou apenas falta de ambição? Ele lá sabe.
Na óptica do Benfica, repete-se: foi um alívio. Venha a nova Luz.
Árbitro
PAULO PEREIRA (4). O juiz de Viana do Castelo, apesar de algum descontrolo final – a pouca experiência a vir ao de cima –, assinou uma boa arbitragem. Errou em lance de menor importância, exceptuando talvez o último fora-de-jogo, arrancado a Ferreira II, já nos instantes finais, segundo a indicação do auxiliar. Sempre em cima dos lances, foi autoritário quando tinha que ser e mostrou os cartões que tinha que mostrar. Se mantiver sempre a calma, conseguindo ficar indiferente às manifestações do público, que quer sempre decisões favoráveis à sua equipa, temos homem para grandes desafios.