Este ano mais cedo do que o habitual, aí está a prova mais esperada dos fãs do ciclismo. Com arranque marcado já para sábado, em Florença, a Volta a França deste ano tem tudo para monopolizar as atenções dos amantes do ciclismo, mas também de todos os que gostam de grandes espetáculos desportivos. Colocada ainda com o Europeu de futebol em andamento e antes dos Jogos Olímpicos de Paris, a mais emblemática corrida velocipédica deste ano promete arrebatar as emoções. Tudo porque vai reunir o naipe dos melhores ciclistas da atualidade, todos os líderes das equipas com ambições à camisola amarela.
Quer saber tudo? Como habitual, Record traz-lhe um guia completo onde pode consultar todas as informações, desde a análise detalhada das etapas e das equipas, um perfil histórico e também quem são os principais candidatos. Está tudo aqui.
Este ano, como sempre, todo o Tour contará com transmissão em direto para Portugal no Eurosport e na plataforma MAX, mas também poderá seguir as incidências das principais etapas no site de Record.
Os dados estão lançados, que comece então a prova rainha do ciclismo mundial!
Este ano mais cedo do que habitual, conforme dissemos, o Tour'2024 vai ser um dos mais renhidos de sempre, isto a julgar pelo pelotão de elevadíssima qualidade que as equipas vão fazer alinhar.
Tadej Pogacar (UAE Emirates), Jonas Vingegaard (Visma | Lease a Bike), estes dois os campeões dos últimos quatro anos, com duas vitórias cada; Primoz Roglic (que deixou a Jumbo, agora Visma | Lease a Bike), para ser líder a solo na Red Bull – BORA – hansgrohe, ainda que esta tenha também Alesandr Vlasov; Remco Evenepoel (Soudal Quick-Step), que faz a sua estreia na prova; Egan Bernal (Ineos Grenadiers); Richard Carapaz (EF Education - EasyPost); ou Enric Mas (Movistar). São - mesmo! - muitos os candidatos...
Para os portugueses, a Volta a França de 2024 terá ainda mais motivos para colocar os espetadores pregados à televisão. João Almeida fará a sua estreia, depois de ter brilhado na Volta a Itália (no ano passado foi 3.º) e de outras bem sucedidas participações na Vuelta. Sabe que agora a sua prioridade é trabalhar para Tadej Pogacar, não descurando todavia aproveitar "uma oportunidade" se o desenrolar da corrida assim o permitir. A UAE Emirates, de resto, será a super equipa do pelotão, pois além do esloveno e do português, apresenta-se com Juan Ayuso, Adam Yates e Pavel Sivakov.
A lista de portugueses presentes este ano completa-se com Rui Costa (EF Education), 37 anos, e Nelson Oliveira (Movistar), 35, já veteranos nestas andanças, com aquelas que vão ser as suas 12.ª e 8.ª participações, respetivamente.
A Volta a França de 2024 disputa-se um pouco mais cedo que as datas habituais, por força dos Jogos Olímpicos de Paris’2024. É também por este motivo que a corrida não termina em Paris, o que vai acontecer pela primeira vez na sua longa história de mais de 120 anos. As primeiras pedaladas serão dadas este sábado, dia 29 de junho, para a corrida ter o seu fim dia 21 de julho, em Nice e também com outra novidade: a última etapa não será a da habitual consagração, mas sim um contrarrelógio que pode até decidir o vencedor.
O início será de novo fora do território francês, desta vez em Itália, mais concretamente em Florença. Será, de resto, a primeira vez que o Tour começa em território italiano, naquela que é a 26.ª vez que a corrida começa em terras estrangeiras.
Em traços gerais, o Tour de 2024 apresenta o seguinte figurino: 3498 quilómetros, com 52.230 metros de desnível positivo, oito etapas ditas planas, quatro de média montanha, sete de alta montanha (com quatro delas em chegadas em alto) e dois contrarrelógios. E logo desde o primeiro dia que a corrida promete, já que a ligação Florença-Rimini é um carrossel de sobe e desce.
Quer saber o percurso, etapa a etapa? É só ler as linhas abaixo, numa análise da autoria de Marques dos Santos.
Etapa 1: Florença a Rimini (206 km)
Sem tempo a perder ou para "ganhar pernas", o arranque do Tour colocará desde logo em alerta os homens da geral com uma etapa de constantes altos e baixos. No total, são sete subidas categorizadas, com a maior dureza a ficar reservada para a última, que conduzirá os ciclistas até São Marino. Depois disso, há uma longa descida até à meta, pelo que será na ascensão final que o pelotão fará a seleção natural dos candidatos.
Aposta: Remco Evenepoel (Soudal Quick-Step)
Segunda Grande Volta da temporada, o Tour é a prova mais importante de todo o calendário mundial e, por isso, é na prova gaulesa que entram os melhores dos melhores. Tal como no Giro, em França estarão presentes as 18 WorldTeams, isto para lá de outras quatro vindas do escalão ProTeams: Lotto–Dstny e Israel–Premier Tech, as melhores desse escalão no ano passado, e ainda Uno-X Mobility e Team TotalEnergies, estas duas convidadas pela Amaury Sport Organisation (ASO).
Como habitual, abaixo poderá conhecer um pouco melhor cada uma delas, saber as suas apostas e quais os reais objetivos. Uma análise da autoria do especialista Pedro Filipe Pinto.
O que mais pode acontecer a esta equipa nesta temporada? Depois de conquistar as 3 grandes voltas em 2023, a Visma vai tropeçando de azar e azar e só mesmo por milagre é que consegue alinhar com o Jonas Vingegaard neste Tour. O dinamarquês, bicampeão da Volta a França, esteve 12 dias internado após uma queda na Volta ao País Basco no início de abril e, por isso, a sua capacidade física é uma autêntica incógnita, principalmente quando o objetivo é a camisola amarela.
Vai ser o alvo a abater e terá a UAE a atacá-lo logo desde o primeiro dia... Será impossível saber como irá apresentar-se. Até porque Sepp Kuss, vencedor da última Vuelta, está fora por estar doente com Covid-19, e Wout van Aert também está a regressar após queda da época de clássicas. As abelhas têm feito um esforço para tirar peso dos ombros de Vingegaard, dizendo que Jorgenson está pronto para liderar, mas... ninguém acredita nisso! O líder é Vingegaard, ponto final. E essa é a única real esperança para sair deste Tour com a camisola amarela.
Isto é muito simples: tudo o que não seja ganhar o Tour será uma desilusão brutal. Pogacar, apesar de ter feito e ganho o Giro, é o principal favorito e, depois da super exibição na Suíça, Adam Yates e João Almeida mostraram estar prontos para quaisquer incidências. Depois ainda há Ayuso, um super talento que, se for domado pelo diretor desportivo Matxin, vai ser um pesadelo para as equipas adversárias. Ah, e depois têm ainda Sivakov, Soler e Wellens. Coitado do Politt, que vai ter de andar quilómetros e quilómetros na frente do pelotão a controlar a corrida. Acredito que a UAE pode acabar o Tour com 3 corredores no top 5 e se isso não acontecer, estarão no top 10 com toda a certeza.
Se estivessemos em 2019, esta equipa da Jayco dava tremendas garantias, mas como se vai correr o Tour de 2024, veremos no que dá. Simon Yates parte como líder e é candidato claro ao top 10, contudo, de há uns anos para cá, parece vir a afastar-se do seu irmão Adam, que tem conseguido muito melhores resultados na Emirates. Começar como no ano passado (2.º lugar logo na primeira etapa) seria bastante positivo. Depois, Groenewegen é o sprinter destacado para esta corrida e terá um bom comboio. Veremos se consegue ganhar alguma etapa sem colocar alguém em risco... Já Matthews terá as suas oportunidades e, se estiver no topo de forma, poderá ser a melhor opção da equipa australiana.
É a minha opinião, mas considero os 4 'líderes' da UAE melhores do que o top 4 da Ineos - ou seja, Pogacar, Yates, Almeida e Ayuso > Rodríguez, Bernal, Pidcock e Thomas -, por isso é que poderá haver alguma confusão na formação britânica. Na Emirates, Pogacar é o n.º 1 indiscutível, mas na Ineos isso é diferente. No papel, Carlos Rodríguez é o líder e Pidcock quer fazer a sua corrida sem amarras, enquanto os dois campeões do Tour - Geraint Thomas (2018) e Egan Bernal (2019) - vão ver o que acontece à sua frente, sem grandes obrigações também. Não parece que organização seja a palavra de ordem, mas o top 5 será sempre o objetivo, até porque Rodríguez foi 5.º no ano passado. Mas não quero deixar passar em branco esta nova participação de Bernal no Tour, que está, aos poucos, a voltar ao seu melhor depois do acidente que quase lhe tirou a vida em janeiro de 2022.
Por falar em lutar pela camisola verde, eis que aparece outro candidato. Mads Pedersen ganhou uma etapa em 2023 e apenas ficou atrás de Jasper Philipsen na regularidade, pelo que este ano quer dar o salto e subir ao pódio em Nice. O campeão do Mundo de 2019 vai contar com a preciosa ajuda de Stuyven e Gibbons nos quilómetros finais, sendo que o trator Tim Declercq vai ter muitas horas na frente do pelotão a controlar a distância para as fugas. Na luta pela geral, Giulio Ciccone vai mais uma vez ser o líder da equipa e tentará estrear-se no top 10 de uma grande volta. Muito promete, mas raramente cumpre. No ano passado até festejou em Paris a conquista da classificação da montanha, mas não é isso que o move no ataque a uma Volta a França.
A mudança de nome até trouxe uns resultados engraçados para uma equipa que, em casa, vai lutar principalmente por vitórias em chegadas ao sprint e, depois, tentar colocar um corredor entre os 10 primeiros. A principal esperança para a geral é Felix Gall, oitavo classificado na edição passada, mas que, nesta temporada, não tem aparecido com grande destaque. Mas entre colocar Gall no top 10 ou ganhar uma ou duas etapas, a equipa francesa escolherá sempre a segunda opção. E para isso leva o sprint Sam Bennett, que em tempos já foi o melhor do Mundo e este ano leva 5 vitórias, e ainda nomes importantes para fugas como Nans Peters e Paul Lapeira - este jovem de 24 anos com raízes portuguesas vai estrear-se no Tour e exibir a camisola de campeão francês, que conquistou com o seu 4.º triunfo da época.
Ora aqui está uma equipa que sabe as suas valências e limitações e que traz um bloco que dará garantias e possibilidades de vencer em qualquer terreno. Para a geral, Santiago Buitrago parte como líder e terá em Pello Bilbao a sua principal ajuda nas montanhas. Já Jack Haig e Wout Poels terão mais liberdade para procurarem vitórias através de fugas nas tiradas mais duras deste Tour. Por outro lado, Phil Bauhaus é o sprinter designado e terá um comboio engraçado que contará com Nikias Arndt, Fred Wright e Matej Mohoric. Este último acaba por ser o corredor mais perigoso da equipa e tem algumas etapas que lhe assentam que nem uma luva (finais em descida). Mohoric tem o objetivo de ser o primeiro camisola amarela, mas será complicado porque a UAE deverá querer endurecer bastante a corrida já no sábado.
O paradigma nesta equipa, a 'boa e velha' Quick-Step, tem mudado completamente nos últimos anos e tudo se deve a um menino chamado Remco Evenepoel. O conjunto que era, temporada a temporada, o mais vencedor, começou a transformar-se numa equipa moldada para ganhar grandes voltas porque tem nas fileiras um super talento. A primeira prova foi dada com a conquista da Volta a Espanha de 2022 e, agora, o prodígio belga de 24 anos quer estrear-se em grande no Tour. Para isso traz um bloco completamente focado em si, com Hirt, Van Wilder e, principalmente, Mikel Landa a serem os seus homens de confiança. As fichas estão tão apostadas em Evenepoel que um dos melhores sprinters do Mundo, Tim Merlier, ficou em casa...
Mais uma oportunidade para Primoz Roglic ganhar o Tour e, quem sabe, a melhor desde que perdeu a camisola amarela na penúltima etapa de 2020. O esloveno trocou de equipa, é o líder indiscutível da agora denominada Red Bull-BORA-hansgrohe e planeou toda a temporada para se apresentar na melhor forma possível no arranque de Florença. As muitas quedas que sofreu ao longo da época têm sido um pesadelo, mas nenhuma delas deixou mazelas sérias, pelo que é visto como o principal rival aos monstros Pogacar e Vingegaard. A Bora foi construída à sua volta e terá dois grandes braços direitos, com Vlasov e Jai Hindley a apresentarem-se num bom momento. Jungels, Denz e Sobrero terão outro tipo de funções, enquanto Danny van Poppel vai tentar intrometer-se nos sprints com a ajuda de Marco Haller.
Aquele que, em tempos, foi visto como a grande esperança francesa, parece estar prestes a ser ultrapassado dentro da própria equipa. David Gaudu vai de desilusão em desilusão e esta temporada ainda não terminou uma prova por etapas dentro dos 10 primeiros - o melhor que fez foi o 14.º lugar na Volta à Romandia! O 9.º lugar na edição passada do Tour foi resultado de um autêntico 'iô-iô', mas o fio pode partir-se este ano porque Lenny Martinez impõe-se cada vez mais como um dos melhores trepadores gauleses. Aos 20 anos, o jovem, que leva 5 vitórias esta época, vai estar à espera de um pequeno deslize do líder para saltar para a ribalta e assumir a liderança. De resto, atenção a Grégoire, muito forte em subidas curtas e inclinados, e Valentin Madouas. Já 'King' Kung é uma máquina de guerra e, para além dos contrarrelógios, vai tentar a sorte com ataques de longa distância.
No ano passado toda a gente dizia que, pelo que fez na Volta a França - 4 vitórias -, Jasper Philipsen era o melhor sprinter do Mundo, mas, passados cerca de 11 meses, já há mais dúvidas em relação a isso. Mas atenção, para além da potência do belga, o que fez a diferença foram os lançamentos de Mathieu van der Poel, que tiveram tanto de louco como de perfeito. A dupla está unida de novo e, por isso, Philipsen, que pouco se mostrou depois de ganhar a Milan-San Remo, parece partir como o alvo a abater nas chegadas em pelotão compacto. Vai ser engraçado ver o arco-íris a abrir caminho! Porém, esse arco-íris vai querer comer também! Mathieu van der Poel estará em crescendo de forma em direção aos Jogos Olímpicos e, nas duas últimas semanas, vai tentar picar o ponto. Soren Kragh Andersen e Axel Laurance, vencedor da Volta à Noruega, são outros homens a ter em conta no que às fugas diz respeito.
Muita gente para ganhar etapas e pouca para ajudar realmente Richard Carapaz. Um corredor como o equatoriano tem sempre o pódio como o objetivo, mas a tarefa não será fácil se, aos primeiros safanões, ficar sozinho contra os blocos de UAE, Visma, Bora ou Ineos... Mas o que perde no comboio de montanha, os norte-americanos ganham na luta por vitórias, com nomes muitos fortes nesse aspeto e com Rui Costa à cabeça. Com a conquista da prova de fundo dos campeonatos nacionais, o experiente ciclista português mostrou estar completamente recuperado da queda na Volta ao Algarve e tenciona voltar às vitórias no Tour 11 anos depois. Mas com o mesmo objetivo vão Neilson Powless, Ben Healy, Sean Quinn e Alberto Bettioll, tudo malta para ir para as fugas. Marijn van den Berg vai procurar surpreender nos sprints, enquanto Bissegger é sempre alguém a ter em conta nos contrarrelógios.
Finalmente, temos o touro! Arnaud de Lie estreia-se em grandes voltas e vai mostrar-se ao grande público. O talentosíssimo corredor de 22 anos é uma diamante em bruto e pode muito bem ser a grande figura dos sprints nesta Volta a França. A exibição no campeonato nacional belga, no qual arrancou mais cedo e ganhou em potência 'só' a Philipsen, Meeus, Nys, Van Aert e Merlier, é prova de que temos aqui um caso sério. Ele e Van Gils, que tentará a sorte em algumas etapas de montanha, são as únicas esperanças da Lotto nesta corrida.
Cresci a admirar Froome, mas já chega... Está a encher os bolsos de dinheiro, mas já não é um corredor competitivo. Pena aquela queda em 2018, quando ia a caminho do 5.º Tour conquistado. É dos melhores de sempre, mas deixá-lo de fora foi a melhor opção para a Israel, isto porque há muito se dizia que iria ser o líder. Esse papel foi entregue a Derek Gee, que o agarrou com unhas e dentes no Critérium du Dauphiné, onde fechou o pódio. Depois do super Giro que fez em 2023, o canadiano de 26 anos reapareceu em grande e vai estrear-se na Volta a França com aspirações ao top 10. E merece tudo, é adorável, este rapaz, pá! Contudo, o foco da equipa estará mais na conquista de etapas, com Stephen Williams e Neilands a serem reais ameaças nas fugas e Ackermann a tentar intrometer-se nas chegadas ao sprint.
Guillaume Martin é um corredor que praticamente nos esquecemos que existe, mas a verdade é que chega ao Tour e... fecha top 10. O filósofo do pelotão defende o 10.º lugar da época passada, mas dependerá apenas de si, porque a equipa não vai ficar à sua espera, visto que Izagirre, Herrada, Geschke e Zingle vão procurar as fugas para tentarem triunfar dessa forma. Contudo, a grande esperança da formação francesa é o sprinter Bryan Coquard, que tem o sonho de conquistar a camisola verde e, por isso, estará sempre na luta dos sprints. Em 2023 ficou em 3.º na luta pela camisola verde e o melhor que conseguiu foi um quarto lugar em etapa. Vai procurar a sua primeira vitória no Tour.
O nome do documentário da Movistar - 'El dia menos pensado' - diz muito sobre as táticas desta equipa ao longo dos anos, mas também o que é que se pode fazer contra monstros como Pogacar e Vingegaard? Às vezes é preciso um pouco de loucura. O problema é que essa loucura que Valverde tinha, falta a Enric Mas, um puro trepador (dos melhores do mundo), mas que não consegue fazer a diferença frente aos principais adversários. A queda e abandono na primeira etapa do Tour passado (não terminou também em 2022) ficaram marcados na memória do castelhano de 29 anos, que vai tentar pelo menos replicar o seu melhor resultado - 5.º lugar. Tendo em conta a concorrência, é melhor não elevar muito as expectativas, até porque o suporte não é o melhor. Veremos se Nelson Oliveira vai ter liberdade e capacidade para ir em busca de vitórias, com Lazkano e Aranburu a serem os mais fortes da Movistar para as fugas. No sprint vão tentar a sorte com Gaviria, que não ganha no Tour desde 2018.
Não quero ser mauzinho, mas só um milagre vai fazer com que a Arkéa saia do Tour com nota positiva. Sendo da casa, o objetivo passará por estar muitas vezes na fuga e ver se a sorte lhes cai do céu, porque nos frente a frente com os pesos pesados vai ser complicado. O líder da equipa é o sprinter Arnaud Démare, que o melhor que conseguiu esta época foi um 5.º lugar na primeira etapa da Volta ao Algarve. Por isso, acredito que as grandes esperanças estejam depositadas em Luca Mozzato e Kévin Vauquelin, que conseguiram os melhores resultados da equipa esta época, quando fizeram 2.º na Volta a Flandres e Flèche Wallonne, respetivamente.
Lembram-se da forma como defini Guillaume Martin? Louis Meintjes é muito parecido. Parece que só corre nas grandes voltas e sabemos sempre onde ele está - a fechar o grupo dos favoritos. O pequenino sul-africano terminou a Volta a França 4 vezes e só por uma vez ficou fora do top 10 (14.º em 2021). Não se pode esperar grande espetáculo deste trepador, mas uma coisa é certa: ele vai lá estar quase sempre! Espectáculo é o que Biniam Girmay pode dar se estiver de volta aos 'bons velhos tempos'. Os resultados recentes deram alguma confiança ao eritreu de 24 anos, que, se tiver boas pernas, vai lutar pela camisola verde. Se Bini falhar, atenção a Gerben Thijssen, sprinter que foi o primeiro camisola amarela na Volta ao Algarve.
Nestas muitas análises que já fiz, poucas foram as vezes em que elogiei a dsm e... esta não será uma delas. Ora, então vamos por partes. O líder Romain Bardet vem de um 9.º lugar no Giro e o top 10 é quase impossível. Warren Barguil vai tentar a sorte em fugas mas não ganha desde abril de 2022 e, em grandes voltas, desde o Tour de 2017. O sprinter Fabio Jakobsen, a única vez que ficou dentro do top 100 da etapa foi numa chegada compacta na qual não foi além do 22.º posto. Degenkolb vai desgastar-se a tentar lançar Jakobsen. De Welten, Van den Broek e Eekhoff pouco se pode esperar. Sobra Oscar Onley, jovem britânico de 21 anos que tem feito uma excelente temporada e pode estar na luta pelo top 15 na sua estreia no Tour. Um nome a ter em conta.
Podia fazer copiar e colar aqui a análise à Astana do guia da temporada passada. Era suposto ser a última oportunidade de Cavendish superar Eddy Merckx no número de vitórias em etapas da Volta a França (estão empatados com 34), mas a fratura da clavícula direita logo à oitava tirada deixou uma espinha encravada na garganta do britânico de 39 anos. A equipa cazaque deu-lhe mais um ano de contrato e ainda lhe ofereceu o melhor lançador do Mundo - Morkov -, que tanto o ajudou nos 4 triunfos de 2021. As duas vitórias em 2024 mostram que Cav ainda consegue superiorizar-se, mas a concorrência não dará borlas... Com toda uma equipa virada para o sprint, Vinokourov leva o sempre perigoso Lutsenko para tentar sacar uma vitória através de fugas e ainda o talentoso trepador Harold Tejada.
Ao contrário da dsm, aqui está uma equipa de que falo quase sempre bem, porque... fazem as coisas bem. Este projeto está bem construído e aposta na prata da casa para tentar ter sucesso. Tobias Halland Johannessen está a ser polido para vir a ser um grande voltista e vai partir como líder da equipa para a montanha. Mas os noruegueses trocam qualquer top 10 por uma ou duas vitórias de etapa. Magnus Cort, Waerenskjold e Rasmus Tiller vão andar muitas vezes na frente, enquanto Kristoff vai tentar andar para trás no tempo para voltar a ganhar na Volta a França.
Steff Cras era um dos corredores que eu na época passada apontava ao top 10, mas uma queda tirou-o da corrida logo à oitava etapa. Contudo, na Volta a Espanha voltou bem e terminou no 11.º posto. Parecia ter a época estragada depois daquela queda no País Basco (ficou pior do que Vingegaard), mas voltou na Volta à Eslovénia e mostrou-se bem. Posto isto, não acredito no top 10, mas acredito que Cras será um nome a ter em conta nas fugas dos dias de montanha. No entanto, Mathieu Burgaudeau, o Alaphilippe da Wish (com todo o respeito!), é um corredor super talentoso e vai tentar fazer das suas no seu quarto Tour.
Tal como em 2023, Portugal volta a ter 3 ciclistas no pelotão do Tour, mas desta feita com ambições e esperanças bem distintas. Muito por culpa da presença de João Almeida, o ciclista de maior nomeada da atualidade do nosso ciclismo.
O terceiro colocado do Giro do ano passado estreia-se na mais importante Volta do calendário internacional e, apesar de ter aqui um papel secundário, no auxílio a Tadej Pogacar, vai tentar manter o seu registo imaculado em Grandes Voltas. É que, com exceção do Giro 2022, onde abandonou, o ciclista natural das Caldas da Rainha foi sempre top-10, com o maior destaque a ir para a tal Volta a Itália do ano passado, onde conseguiu um histórico 3.º lugar.
E já que falamos em história, o que dizer de Rui Costa? Recentemente consagrado campeão nacional de estrada, o veterano ciclista que agora veste as cores da EF Education - EasyPost vai para a sua 12.ª presença no Tour, a apenas 1 do lendário Joaquim Agostinho. Com 3 vitórias em etapas em terras gaulesas, Rui Costa pode tentar a sua sorte em busca de uma eventual quarta, mas o seu papel principal será certamente a ajuda ao líder Richard Carapaz.
Situação similar encontrará Nelson Oliveira, um dos mais fiáveis (e confiáveis) da estrutura da Movistar. Aos 35 anos, vai para a sua 8.ª presença no Tour e para uma incrível 20.ª Grande Volta, sempre com papel fundamental nas esperanças da equipa espanhola. Este ano, tal como no Tour e Vuelta de 2023, será um fiel escudeiro de Enric Mas, mas poderá ter chances para brilhar nos contrarrelógios. Veremos...
Muita história, mas nem sempre feliz…
Sabia que os jornalistas estão diretamente ligados à história da Volta a França? Henri Desgrange, fundador do jornal "L’Auto" (o atual "L’Équipe"), decidiu colocar em prática uma ideia de um dos seus funcionários, ao acreditar que, realizando uma prova de ciclismo, poderia aumentar a circulação do jornal.
Estava-se no início do século 20, já lá vão muitos anos. A primeira edição do Tour disputou-se em 1903, sendo que a prova só vai para a estrada pela 108º vez, tendo sido interrompida por ocasião das duas Grandes Guerras (1915 a 1918 e 1941 a 1946).
A ideia de associar um evento como a Volta a França a um jornal também de grande tiragem foi seguida em outros países. Em Itália, o Giro é organizado pela empresa que detém a "Gazzetta dello Sport", sendo que no nosso país, a maioria das edições da Volta a Portugal teve igualmente jornais por trás, como o "Diário de Notícias" e o "Jornal de Notícias".
O Tour foi, de resto, um tremendo êxito em várias frentes desde as primeiras edições, uma aposta ganha desde a primeira hora. Houve etapas que chegaram a ter cem mil espectadores, ao passo que as vendas do "L’Auto" aumentaram em mais de 40 mil exemplares.
Inicialmente, o figurino do Tour era apenas uma competição individual, em que qualquer ciclista se poderia inscrever. Mas a partir de 1930, passou a ser disputado por equipas, no começo só formações nacionais.
O primeiro Tour contemplou seis etapas, num total de 400 quilómetros, feitos em 19 dias. A prova começou nos arredores de Paris e consagrou o francês Maurice Garin.
Ao longo da história do Tour, 31 ciclistas portugueses tiveram a oportunidade (e o privilégio) de pedalar nas estradas francesas. Entre eles, 16 participaram apenas por uma vez, mas muitos outros deixaram marca na história daquela que é considerada a prova rainha do ciclismo.
Alves Barbosa (correu em 4 edições, como José Freitas Martins e Orlando Rodrigues) abriu as hostilidades em 1956. E fê-lo com um brilhante 10º lugar na geral final. Nas edições seguintes, José da Silva, Antonino Batista e José Sousa Cardoso juntaram-se a Alves Barbosa, mas só em 1969 o ciclismo português começou a ganhar alguma ‘fama’ no Tour. Tudo por culpa de um ‘tal’ de… Joaquim Agostinho.
A lista de vencedores do Tour ficará para sempre marcada pelo 'apagar' dos registos de Lance Armstrong. Vencedor de sete edições consecutivas, entre 1999 e 2005, o norte-americano era o dono e senhor da prova gaulesa, com mais duas conquistas do que os históricos Jacques Anquetil, Eddy Merckx, Bernard Hinault e Miguel Indurain, mas acabou por ficar sem todas as suas vitórias por conta da confissão do uso de substâncias dopantes.
Como seria de esperar, os franceses, com 36 vitórias, são os mais ganhadores, mas a verdade é que não conseguem um triunfo em Paris desde 1985, no último dos cinco triunfos de Bernard Hinault. E muito provavelmente também não será este ano...
O detentor do título é o dinamarquês Jonas Vingegaard, que no ano passado revalidou o título de 2022. Uma conquista que o colocou a par de outros 13 ciclistas que conseguiram bisar, juntando-se na altura a um lote onde entra Tadej Pogacar, o seu rival deste ano - outra vez -, mas outros nomes de destaque, como Alberto Contador ou os lendários italianos Gino Bartali e Fausto Coppi ou o francês Laurent Fignon.
Caso este ano algum dos dois (Vingegaard ou Pogacar) consiga o hat-trick, irá fazer algo que até agora apenas outros 3 ciclistas conseguiram. Philippe Thys (1913, 1914 e 1920), Louison Bobet (1953, 1954 e 1955) e Greg LeMond (1986, 1989 e 1990) - isto para lá dos outros 5 que têm 4 ou mais triunfos.